Ataques na campanha

Nas lutas de boxe, a fuga ao combate autoriza o juiz a tirar pontos do lutador não-combativo. Nesta campanha eleitoral, a fuga ao combate não se justifica, a menos que signifique ataques pessoais entre os disputantes. Estes só são admissíveis quando se trata de denúncias fundadas sobre comportamentos aéticos ou criminosos. É obrigação de qualquer cidadão, e muito mais ainda de um candidato, denunciar que algum malfeitor está engodando o público, tentando captar seus votos para aboletar-se no poder. Contra os atuais candidatos à Presidência da República não existem acusações de comportamentos aéticos e muito menos criminosos. Até prova em contrário, Lula, Serra, Ciro e Garotinho são homens de bem. E se provas em contrário existissem, com certeza já teriam surgido, pois estamos às vésperas do primeiro turno das eleições, arrancada final em que ninguém desprezaria uma boa e sólida denúncia para derrubar um adversário e melhor colocar-se na disputa. Existem, sim, denúncias contra correligionários, ex-correligionários, parentes afastados, ex-colaboradores, em geral não-fundadas e sempre distantes dos candidatos. Busca-se um contágio pouco provável.

A fuga ao combate, de parte de qualquer candidato à Presidência da República, não se justifica, porque é imprescindível que o eleitorado descubra qual deles é o melhor.

Existem diferenças entre o que as pessoas dizem que são, o que pensam que são, o que os outros pensam que elas são e o que efetivamente são. Não é fácil descobrir o perfil verdadeiro de cada candidato se ficarem perdendo tempo em xingações, autopromoção ou simplesmente posarem de bonzinhos. Precisamos do melhor. E não basta que seja um homem bom, pois a chefia da nação não é uma função de caridade. Se faz imprescindível que seja também competente, tenha um conjunto de idéias apropriado à condução dos destinos do País e soluções para seus problemas. Alguns desses problemas são desafios que, para serem enfrentados, exigem fórmulas intrincadas, recursos vastos, engenhosidade, amplo apoio público e parlamentar e leis adequadas. Não basta um presidente bom para solucioná-los. É preciso um presidente competente, solidamente escorado na sua vontade e na vontade da nação. Se um candidato está prometendo mundos e fundos e não sabe como cumprir; se apresenta metas que não tem como atingir; se insinua fórmulas para soluções de problemas que sabidamente são ineficientes, tem de ser atacado. Se assim não for, acabaremos elegendo o que mais promete, o que leva ao risco de termos como presidente o que menos cumpre. Se dizer que vai criar 8 milhões ou 10 milhões de empregos é o que dá votos, vai eleger-se aquele que prometer 15 ou 20 milhões. Se prometer um salário mínimo de R$ 280,00 credencia alguém a ser o mais votado, se sairá melhor o que prometer R$ 300,00, R$ 500,00 ou, quem sabe, algo em torno de R$ 1.100,00, o mínimo calculado pelo Dieese.

É preciso atacar os que fazem falsas promessas. Atacá-los através da denúncia da falsidade de suas promessas. E é preciso exigir que cada um só proponha o que é capaz de cumprir. Se matar a cobra, que mostre o pau. A situação do Brasil e as dificuldades do povo não permitem rasgação de seda na campanha. Exige civilidade e respeito mútuo entre os candidatos, mas dispensa salamaleques quando se tratar da discussão dos problemas nacionais.

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