A representação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil abriu uma exceção em sua política de atendimento às crianças carentes e lançou uma campanha para receber doações em dinheiro para ajudar as crianças vítimas do maremoto na Ásia e África. Desde meados da semana passada, o Unicef já recebeu mais de R$ 30 mil em depósitos numa conta especial do Banco do Brasil, criada para reunir fundos destinados ao atendimento das vítimas do tsunami.
José Afonso Braga, coordenador de mobilização de recursos, declarou que "o Unicef Brasil, pela primeira vez, rompeu a regra, quebrou o paradigma de que só arrecada recursos no Brasil para investir nas crianças e nas famílias brasileiras". Marie-Pierre Poirier, representante do Unicef no País, se disse impressionada: "Estou impressionada com o número de ligações e mensagens que recebemos nos últimos dias de brasileiros que querem ajudar". E acrescentou: "O Unicef está pronto para facilitar essa demonstração de solidariedade do povo brasileiro com as crianças e suas famílias nos países mais afetados por essa tragédia".
O escritório da organização entende que sua decisão inédita de captar recursos para a região atingida, e não para as crianças brasileiras, como é sua norma, se justifica por se tratar de "um caso extraordinário, de extrema gravidade e enorme sofrimento de grande parte da população".
"A ajuda dos brasileiros pegou a gente de surpresa, infelizmente em um momento de muita tristeza. Mas mostrou quão rico de amor é o povo brasileiro que, ao ver a tragédia do outro lado, diz: "Eu quero ajudar", complementa Braga.
Como Lula não se cansa de repetir, o povo brasileiro é excelente. É o nosso maior capital. Então, por que aqui há tanta miséria, tantas crianças abandonadas, milhares passando fome e não poucas dormindo nas ruas? Por que há crianças em trabalho escravo e outras sendo exploradas pelo narcotráfico, à falta de assistência da sociedade organizada e do governo?
Na justificativa pelo movimento encetado excepcionalmente pelo Unicef, por insistência de brasileiros, vamos encontrar uma pista. Disse seu coordenador, José Afonso Braga, que na Ásia houve um caso extraordinário, de extrema gravidade e enorme sofrimento de grande parte da população.
Não passaria pela cabeça de ninguém condenar a atitude do Unicef. Mas isso nos leva a pensar que no Brasil a miséria mata nossas crianças ainda quando de tenra idade, muitas sobrevivem com indescritíveis sofrimentos e nos falta o que nos move para ajudar as crianças asiáticas. Um caso extraordinário, de extrema gravidade.
É terrível constatar que um povo bom como o nosso perdeu sua capacidade de indignação e vê, todos os dias, semana após semana, mês após mês, ano após ano, crianças e famílias brasileiras na mais completa exclusão, sofrendo tanto quanto as vítimas do maremoto na Ásia, e pouco ou nada fazem para ajudá-las porque falta um caso extraordinário. Seria necessário que milhares de crianças morressem de uma só vez, num gigantesco desastre, para despertar o amor e a atenção de seus compatriotas? Estaríamos precisando de um tsunami que provocasse uma onda de solidariedade?