A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada hoje (16) sugere a continuidade de um processo de mais longo prazo para a queda da taxa de juros e desmonta as análises de que a Selic poderia cair 1 ponto porcentual, em abril. "A ata sinalizou que a redução na próxima reunião será mesmo de 0,75 (ponto porcentual)", admitiu o economista-chefe da corretora Concórdia, Elson Teles.
As apostas de mercado de que a taxa poderia sofrer uma queda mais acentuada no próximo mês foram estimuladas pelos votos de três integrantes do Copom em favor de um corte de 1 ponto porcentual já na reunião passada. O texto da Ata explicita os argumentos do Copom, que, por decisão de maioria do colegiado, reduziu de 17,25% para 16,5% a taxa Selic. Esses três diretores avaliaram que essa queda proporcionaria uma sinalização mais condizente com a melhora da avaliação de riscos observados nas duas reuniões deste ano. Eles entenderam que houve uma recuperação equilibrada da economia e destacaram as perspectivas de ampliação dos investimentos e expansão das importações.
Para esses diretores, também era possível perceber um arrefecimento do processo de aceleração da inflação. No entanto, foi feita a ressalva de que, apesar desse posicionamento, os diretores concordavam que os próximos passos do BC ainda obedeceriam à lógica de condicionar suas decisões à evolução dos indicadores de inflação e as suas projeções.
O economista do grupo de análise da conjuntura econômica da UFRJ Carlos Thadeu Filho, comentou que a percepção de que a taxa teria corte de 1 ponto porcentual provocou uma queda forte dos juros de longo prazo. "Isto anulou o benefício que o Banco Central (BC) teria com a queda de 0,75 ponto porcentual em seu esforço de fazer a inflação convergir para as metas", disse.
O problema foi contornado, segundo ele, pela inclusão na Ata desse posicionamento dos diretores em relação a necessidade de acompanhar a evolução dos indicadores. A disposição para o gradualismo foi acentuada, na avaliação de Elson Teles, pelo fato de a Ata ter ressaltado que ainda persistem incertezas quanto ao impacto na inflação da queda de 2,5 pontos porcentuais na taxa Selic desde setembro do ano passado.
"As decisões das políticas de juros costumam levar um tempo médio de 6 a 9 meses para surtirem efeito sobre a inflação", explicou Teles. Neste particular, ele lembrou que a inflação de março poderá vir pior do que esperava o mercado inicialmente em função dos aumentos de preços dos combustíveis. "O IPCA de março poderá ficar em 0,50% e não nos 0,35% que se esperava inicialmente", comentou.
A ata reconhece o impacto do aumento dos preços dos combustíveis motivado pela alteração na composição da gasolina, com a redução de 25% para 20% da quantidade de álcool anidro na mistura à gasolina. Porém, considera que a correção dos preços poderá se reverter no longo prazo. "Não acredito que haverá uma reversão total dos aumentos de 5% que ocorreram neste primeiro trimestre" duvida Teles.
Para ele, o BC terá que mudar sua previsão de reajuste zero para os combustíveis neste ano e passar a trabalhar com algo entre 2% e 3%. Thadeu Filho acha, em contrapartida, que o encarecimento dos combustíveis deverá ser anulado pela queda dos preços dos produtos duráveis e semiduráveis. "Com demanda baixa, os preços destes produtos estão em queda e já começam a registrar deflação", disse.