Brasília – O tenente-coronel-aviador Marcos Pontes será o primeiro astronauta brasileiro a participar de um vôo em nave espacial. Pontes, que realizou sete anos de treinamento, embarca no dia 22 de março na nave russa Soyuz, da Estação Especial Internacional (ISS), levando experimentos científicos brasileiros para execução em ambiente de microgravidade. A missão deve durar oito dias.
O contrato que prevê a participação do brasileiro na vôo da Soyuz foi assinado hoje, em Moscou, pelos presidentes do Brasil e da Rússia, Luiz Inácio Lula da Silva e Vladimir Putin, na presença do diretor da Agência Especial Brasileira (AEB), Sérgio Gaudenzi. A AEB é vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia.
O presidente Lula disse que o contrato se insere no interesse que os dois países têm de se conhecerem. "A Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica) quer produzir aviões na Rússia e eles querem fazer acordo espacial com o Brasil", afirmou o presidente, que apresentou aos jornalistas o astronauta Marcos Pontes.
"O mundo globalizado hoje exige muito de todos nós, e só a participação incisiva resolve. Com isso, o Brasil deixa de ser um país coadjuvante para se tornar o artista principal na cena política internacional", disse o presidente, durante a solenidade de assinatura do contrato.
De acordo com o presidente da Agência Espacial Brasileira, os estudos das universidades brasileiras e o vôo do astronauta, no ano em que se comemora o centenário do vôo de Santos Dumont com o 14 Bis, despertarão a atenção da população para a importância do programa espacial. "Os resultados e seus benefícios têm aplicação direta para a sociedade", disse Sérgio Gaudenzi.
Marcos Pontes disse, na ocasião, que a AEB "vem trabalhando duro nos projetos espaciais" e que "as coisas estão andando bem nesse campo no Brasil". Ele pretende levar uma bandeira brasileira a bordo da Soyuz, além de objetos de uso pessoal, como um chapéu. Segundo ele, "junto com essa simbologia, vem também todo o desenvolvimento industrial do Brasil no campo espacial".
Pontes levará ao espaço experimentos nas áreas de bioquímica, transferência de calor, cinética de enzimas, cristalização de proteínas e de semicondutores e difusão térmica. Desenvolvidos por instituições de pesquisa brasileiras, os experimentos formam uma carga de 15 quilos, que será transportada na nave russa. Os astronauta está, desde o fim da semana passada, no Centro de Preparação de Cosmonautas Yuri Gagarin, onde passa por avaliação médica que antecede o treinamento.
Marcos Pontes fica na Rússia até a volta do vôo espacial, cujo lançamento está previsto para março do próximo ano. Ele fará treinamento para adaptação à nave Soyuz na Cidade das Estrelas, que fica perto de Moscou. Os demais conhecimentos necessários para participar da missão foram adquiridos durante treinamento realizado no Johnson Space Center, da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), iniciado em 1998.
As relações do Brasil com a Rússia, na área espacial, datam de 1988 e se estreitaram com a contratação de assessoria técnica russa para o lançamento do próximo Veículo Lançador de Satélites (VLS-1) e a assinatura de um memorando de entendimento, em 2004, que abre a possibilidade de cooperação no desenvolvimento de foguetes lançadores e de satélites.
