Brasília (AE) – Os auxiliares mais próximos do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PE), estão envolvidos numa operação tão delicada quanto trabalhosa: afastar do chefe dois dos principais parceiros políticos, os deputados Pedro Corrêa (PE) e José Janene (PR). A dupla é acusada pelo colega Roberto Jefferson (PTB-RJ) de integrar o comando do esquema que garantia o "mensalão" a parlamentares da base aliada do governo e passou as últimas semanas desmentindo denúncias e prestando esclarecimentos em várias frentes de investigação.
Além de companheiros de partido, o PP, Corrêa e Janene foram importantes cabos eleitorais na vitoriosa campanha de Severino pelo comando da Câmara, o que os aproximou ainda mais.
Janene é líder e Corrêa é presidente nacional da legenda o que dificulta ainda mais a tentativa de desvincular os dois suspeitos da imagem de Severino. "Nós somos irmãos siameses, não nos separamos nunca. Este fim de semana vamos a dez forrós juntos. Severino é um homem bom, correto e não abandona os amigos", diz o conterrâneo Corrêa, para desespero dos assessores que tentam em vão evitar o convívio de ambos, pelo menos em público.
O presidente do PP diz que, mais que a relação profissional, uma sólida amizade os une. Corrêa irritou-se ao saber que a assessoria de Severino manobrava no sentido de preservar o presidente da Câmara da companhia de seus grandes amigos.
"Me diga quem é, vou mandar Severino demitir", ameaçou. Além de jurar que não tem nenhum envolvimento com o pagamento das propinas, Corrêa diz que o "mensalão" nunca existiu. O que houve, segundo ele, foi insatisfação dos deputados com troca-troca de partidos. "Sabe como é: deputado é que nem sagüi: come, come e continua chorando", teoriza o deputado. O verbo comer, na sua definição, significa obter verbas de emendas, cargos no governo e promessas de ajuda para mudar de partido.
Outro forrozeiro do arraial do PP, o deputado Janene chegou a ser apontado como o líder responsável pela pauta de votações da Câmara na atual gestão. Agora, Janene dedica seu tempo a se defender da acusação de distribuir o "mensalão" a deputados em seu apartamento em Brasília, também chamado de pensão. Até o relator da Comissão de Ética, Jairo Carneiro (PFL-BA), ficou surpreso com o fato de nenhum partido ter ainda entrado com uma representação contra Janene, como conseqüência de ele ter cerca de dez propriedades e uma frota de carros importados, patrimônio aparentemente incompatível com a renda de parlamentar.
Os assessores de Janene dizem compreender que Severino procure manter-se distante da crise, o que só é possível com o afastamento estratégico dos dois grandes amigos. "Acredito que faz sentido que sua assessoria esteja recomendando isso, mas resta saber se o Severino vai conseguir ficar longe deles", observou um assessor do PP.
Na operação de preservação da imagem de Severino, pelo menos uma providência foi bem-sucedida. O assessor João Cláudio Carvalho Genu, lotado na liderança do PP, era presença constante na ante-sala do presidente da Câmara. As visitas pararam, depois que Genu foi acusado de distribuir o "mensalão" aos deputados. "É claro que ele ia lá porque ele é assessor da liderança do PP", justifica Corrêa. É verdade, mas era impressionante a desenvoltura de Genu no gabinete da presidência da Câmara. Sentava-se à mesa da sala contígua à de Severino e contava histórias aos deputados como se fosse um deles. Na véspera da Semana Santa, por exemplo, Genu só deixou o gabinete quando Severino encerrou suas atividades. São essas relações perigosas que os assessores querem evitar.