Um giro pela Grã-Bretanha e arranjadas aparições na tevê para polir seu legado – assessores de Tony Blair já planejaram o que esperam será um fim triunfante dos anos de poder do primeiro-ministro, mostrou um memorando vazado hoje. Mas a realidade política pode estragar os planos, já que cresce em seu Partido Trabalhista a pressão para que o primeiro-ministro deixe o cargo mais cedo do que ele gostaria.
O tablóide britânico Daily Mirror divulgou ter tido acesso a uma cópia do suposto memorando, que não especificaria quando Blair deixará o poder. Um ministro, entretanto, disse hoje que será provavelmente no ano que vem. Legisladores do partido estão fazendo circular um carta exigindo que ele fixe a data da renúncia.
Blair disse numa entrevista na semana passada que seus críticos estavam obcecados sobre quando ele se mudará da Downing Street, mas o memorando vazado sugere que seu escritório também está dando muita atenção ao assunto. "No momento em que Tony Blair entra em sua fase final, ele precisa ter sua atenção voltada para bem além da linha de chegada, e não para a linha em si", diria o memorando, segundo o tablóide. "Ele precisa partir com a multidão pedindo mais. Ele tem de ser o astro que não volta para o bis. Ao caminhar para o fim, ele tem de se concentrar no futuro".
O memorando recomendaria Blair a ir além da mídia política e aparecer em programas de tevê ecléticos, incluindo infantis e religiosos. Visitas a pelo menos cinco cidades britânicas, assim como paradas em 20 de suas mais destacadas obras, devem ser programadas, diz o memorando.
O giro fulgurante enviaria a mensagem de que o legado mais importante de Blair não era as mudanças específicas que fez, "mas o domínio de suas idéias políticas e o triunfo do blairismo" Ele não será capaz de ignorar o Iraque, concederam os assessores. A decisão de Blair de apoiar a guerra e seus laços estreitos com o presidente dos EUA, George W. Bush, são extremamente impopulares na Grã-Bretanha e têm sido um grande revés político para ele. "Temos de incorporar isso ao nosso plano de mídia", aconselha o memorando. "É o bode na sala, vamos enfrentá-lo".
A pressão para a saída de Blair intensificou-se depois que ele negou-se a pedir um cessar-fogo imediato no conflito entre Israel e o Hezbollah, o que caracterizaria, segundo seus críticos, que ele ainda é subserviente às posições de Bush. As últimas pesquisas mostram o oposicionista Partido Conservador com quatro pontos de vantagem na preferência dos eleitores sobre os trabalhistas.