A Central Única das Favelas (Cufa) se eximiu neste último domingo (3) de responsabilidade pela presença de crianças e adolescentes beneficiários de programas sociais do governo federal no evento de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Cidade de Deus, no sábado. A entidade atribuiu a iniciativa ao secretário nacional de Juventude, órgão ligado à Secretaria-Geral da Presidência. No palanque, os jovens deram depoimentos e pediram votos para Lula.
"Não foi a Cufa quem os trouxe, mas o secretário nacional de Juventude do governo, Beto Cury", afirmou ontem ao Estado Celso Athayde, um dos coordenadores da entidade. "Nós só garantimos o espaço, como iremos garantir aos demais candidatos que aceitarem nosso convite.
Ele ressaltou que a Cufa é apartidária e tenta apenas "mobilizar os desgraçados da periferia para se organizarem e se fazerem ouvir". O mesmo evento organizado para receber Lula no sábado será, segundo Athayde, repetido no dia 23, tendo como convidado o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. Os demais candidatos à Presidência também foram chamados para encontros semelhantes, reunindo artistas e comunidades da periferia, mas até agora somente Lula e Alckmin aceitaram a oferta.
Beto Cury não foi encontrado ontem para esclarecer a iniciativa de levar os adolescentes ao palco da escola de samba Mocidade Unida de Jacarepaguá, que acabou se transformando em palanque de campanha. A Secretaria da Juventude é um dos subsetores da Secretaria-Geral da Presidência, comandada pelo ministro Luiz Dulci, que também participou do evento.
O assessor de imprensa da campanha eleitoral de Lula, José Ramos negou que tenha sido Beto Cury o responsável pela iniciativa de levar os jovens – oriundos de São Paulo, Belo Horizonte e Rio – à Cidade de Deus. E, segundo ele, todos foram transportados com recursos do orçamento da coordenação da campanha do presidente. As crianças fotografadas com o presidente no palco vestindo camisetas do programa Segundo Tempo – voltado a alunos do ensino fundamental – estavam na platéia e foram autorizadas pelo próprio Lula a se aproximarem para o registro da imagem.
Foram cinco depoimentos, inclusive de um representante indígena, participante do programa Pró-Índio. Todos falaram das iniciativas de inclusão social desenvolvidas pelo governo Lula. "Se o Alckmin quiser trazer jovens participantes de programas desenvolvidos pelo governo paulista ou pelo prefeito do Rio, César Maia, seu aliado, vamos garantir a palavra. Vamos fazer da mesma forma como fizemos, inclusive com imagens do candidato no palco e músicas da campanha, deixando a palavra livre até para criticar os adversários, como o Lula", diz Athayde.
Segundo ele, o objetivo do encontro com os candidatos é encaminhar documento com 18 reivindicações reunidas por organizações ligadas aos jovens de comunidades carentes. Athayde sustenta, porém, que ninguém da Cufa, em especial seu parceiro de coordenação, o rapper MV Bill – que realizou com ele o documentário Falcão, os meninos do tráfico -, pediu voto ou fez campanha para o candidato. "O encontro tem todo um simbolismo. Queremos mostrar a capacidade de as periferias se organizarem na busca de um canal permanente de diálogo", afirmou.