Assembléia permanente

Aí o companheiro Adauto foi ter com o companheiro Lula e este garantiu: fique tranqüilo, companheiro ministro, que aqui nós agüentamos a barra; trate de trabalhar duro e não ceda à corrupção. O resto a gente administra. Por três vezes já o presidente teve que garantir seu novel ministro dos Transportes. Concordar com sua saída antes de completado o primeiro mês de governo seria um fiasco irreparável. Pior que esse das denúncias de envolvimento em malversação de fundos no passado.

Na outra ponta, o companheiro Berzoini, da Previdência Social, tentou ditar um modelo de previdência, para entronizar a reforma prometida no setor. Deu-se mal. Trombou com o presidente da mais alta corte de Justiça do País. Provavelmente também aconselhado pelo companheiro chefe, mudou o discurso e passou a ouvir propostas em vez de emitir opinião própria. Terá que ter paciência dobrada para ouvir, além de coisa boa, muitos disparates. Mas que fazer?

O companheiro Palocci é duro na queda. Disse e continua repetindo que não vai negociar com nenhum governador o que negociado já estava. Sua estratégia tem a ver com coisa mais séria, dólar, inflação e coisas do gênero. Mas ninguém é de ferro e, para acalmar os interlocutores, entre eles muitos amigos e companheiros, o próprio companheiro Lula achou uma saída: convocar os governadores, todos, para uma empreitada acima de seus problemas momentâneos – a revisão do sistema tributário. “Todo mundo tem de perder um pouco para fazer a reforma. Se não fica na mão dos técnicos, nunca sai”, sentenciou. Reunião de dois dias foi solicitada para o mês que vem.

Enquanto isso, o mesmo companheiro Palocci percebeu quão explosiva é a temática ligada à arrecadação, à prorrogação pretendida da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), ou às tabelas de correção do Imposto de Renda. Tratou ele próprio de diminuir o debate que contraria promessas de campanha. Melhor, evitar o debate. Tem sindicato exigindo a correção da tabela do IR na Justiça e só isso já faz mal a todos os companheiros, pois significa a ruptura do diálogo. Algo assim como a decisão liminar da Justiça sobre o bloqueio dos recursos ao Estado do Rio de Janeiro.

Também no combate à fome, muitos companheiros perceberam – no ministerial ?fometur? ou fora dele – que o problema é um pouco mais profundo e movediço que se imaginava inicialmente. E não deu ainda de lançar o programa por falta de detalhamento no projeto, assim como de linhas claras sobre o que fazer primeiro: se desenvolver a economia para as pessoas ganharem o suficiente para ter o que comer, ou se dar a comida, de preferência já temperada e no prato dos esfomeados, nem todos com vontade de trabalhar.

Em poucos dias, outros companheiros ministros encolheram o tamanho de seus pronunciamentos. O do Trabalho, Jaques Wagner, sabe que precisa reformar a CLT e modernizar as relações capital-trabalho, mas nenhum companheiro imaginava que tirar a multa do FGTS para quem é demitido sem justa causa daria no que deu; nos lados das Minas e Energia, a conta do petróleo e da luz elétrica não pode ser apenas uma política de vontades, pois há que se respeitar o mercado.

Bem, companheiros, é preciso entender que estamos numa assembléia geral permanente. Os outros companheiros do plenário têm direito a réplica, tréplica e, além disso, existem os que podem ter predisposição contra as propostas da mesa. Precisamos ouvir primeiro e falar menos. Nem tudo pode ser como parecia ou como a gente imaginava.

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