A agência Reuters divulgou, dias atrás, um bem fundamentado artigo em que especialistas concluem que a “democracia imperial” dos Estados Unidos é invencível. A expressão “democracia imperial”, criada pelo papa João Paulo II, é das mais felizes. Sem dúvida, os Estados Unidos são uma democracia, apesar dos tropeços nas últimas eleições presidenciais, que evidenciaram falhas na legislação específica e acabaram por entregar a chefia daquela nação a um insensato como George Walker Bush. O atentado de 11 de setembro, que ceifou muitas vidas de inocentes, feriu o orgulho e a confiança nacionais, gerou muitas leis e medidas das autoridades, visando prevenir novos atentados e identificar os autores do ataque às torres do World Trade Center. Tais leis e medidas fragilizaram a democracia e desrespeitam a vida privada dos cidadãos.

A “democracia imperial” já não é tão democracia, no campo interno. Nem o é na sua participação na vida internacional, porque desrespeitou a ONU e sem sua licença e aprovação atacou e invadiu o Iraque, sob protesto da quase totalidade das nações, que se mostraram impotentes para conter a sanha dos norte-americanos. A conclusão do estudo publicado pela Reuters é que hoje os EUA são econômica e militarmente invencíveis, seja lutando contra um só país, seja contra uma coalizão ou, quem sabe, contra o resto do mundo. Tal situação leva o arrogante Bush a ameaçar a Coréia do Norte, o Irã e agora, com maior veemência, a Síria, a quem acusa de haver ajudado o ditador iraquiano Saddam Hussein e escondido armas iraquianas em seu território. São, por enquanto, acusações não provadas, mas sem prova nenhuma os EUA já se atreveram a atacar, destruir e invadir o Iraque. Por que não fariam o mesmo com a Síria ou qualquer outro país que entendam pertencer ao que chamam “eixo do mal”?

O potencial bélico norte-americano é incalculável e inigualável. Irresistível.

No que toca ao comércio entre os povos, não há hoje país ou bloco que possa dispensar negócios com os Estados Unidos, embora comece a ser viável defender interesses nacionais quando há da “democracia imperial” evidentes abusos. A história demonstra que os impérios crescem até um certo ponto e depois ou desmoronam ou declinam. Foi assim com o Império Romano, com o Otomano, com o Sacro Império Romano-Germânico e tantos outros. A queda dos grandes impérios se dá por uma conjunção de fatores que incluem os dispêndios de guerra, reduzindo os recursos para o bem-estar do próprio povo; o aumento exagerado dos territórios, somados os conquistados; a impossibilidade de conquista da simpatia e colaboração dos povos conquistados, quanto mais quando a ferro e fogo; a incompetência política que tende a crescer e multiplicar-se, tanto maior seja um império. E outras causas mais, como a falta de quadros para gerir os territórios conquistados. Hoje, a seguir sua política tresloucada, o governo norte-americano é um risco porque tem condições de impor sua vontade ao mundo. Se quiser atacar e invadir a Síria, por exemplo, nada o impedirá. Conquistar os sírios é outra conversa. E conquistar a segurança pretendida depois do atentado de 11 de setembro certamente se tornará um objetivo cada vez mais longínquo. A cada povo que ataquem, mil Bin Ladens estarão criando, como advertiu o presidente egípcio. A história da ascensão e queda dos impérios poderá se repetir.

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