Tudo começa com ótimas intenções. Era o projeto de melhorar a vida dos que moram nas favelas do Rio de Janeiro. O Exército foi requisitado para colaborar com a obra, aceitou e iniciou seu trabalho no morro da Providência. Tudo corria às mil maravilhas, afinal, além de estarem coordenando a obra, os militares ocupavam a região e transmitiam mais segurança aos moradores, que podiam ficar mais distantes da influência das facções criminosas e do tráfico de drogas. Até o fim de semana passado.
O sumiço e posterior assassinato de três jovens, que foram detidos pelos militares no sábado e que teriam sido entregues a traficantes, que depois os teriam matado -, criou uma série de interrogações na relação entre o poder público e o ?poder informal? dos morros cariocas. O que levaria os militares, que representam mais que todos a soberania nacional, a se aliarem (se isto realmente for verdade) com traficantes, pessoas que abdicam de qualquer escrúpulo em nome do dinheiro e do poder? Mais: será que é positiva a presença do Exército em trabalhos que não são, em tese, de sua responsabilidade?
Quando se fala no tráfico, fala-se em uma rede de poder paralelo que transcende a mais elaborada mente leiga. As ramificações dos traficantes são cada vez maiores, conectando-se com juízes, procuradores, advogados e políticos. Não é nenhuma surpresa se houver um contato mais aproximado com os militares. Surpreendente seria pelo lado das Forças Armadas, que não poderiam jamais admitir que seus integrantes se envolvessem com bandidos.
Sobre a presença do Exército no morro da Providência (ou em qualquer outro lugar) para o controle de obras federais, não há muito que discutir. Sempre que requisitadas, as Forças Armadas cumpriram seu papel de auxiliar o País na construção de rodovias e ferrovias, por exemplo. Não há nada de errado em ver os militares executando trabalhos que serão benéficos para a sociedade.
Errada é a influência da contravenção até em setores ditos incorruptíveis.