Menos de uma semana depois da apoteose em Brasília, e estrelas cintilantes da constelação petista já dão as primeiras escorregadas. Primeiro foi o ministro do Trabalho (!), Jacques Wagner, que sugeriu acabar com um dos dogmas da lei trabalhista – a indenização de 40% do FGTS para demissões sem justa causa. Depois veio a desastrada declaração do ministro da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, defendendo que o Brasil domine a tecnologia nuclear. Por fim, a precipitada divulgação do lançamento do programa Fome Zero e o bater de cabeças que levou ao cancelamento da passagem da caravana presidencial que a partir de hoje vai “mostrar a pobreza aos ministros” por Guaribas (PI), cidade com o terceiro menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do País.
Wagner pode até ter boas intenções, e tem razão quando afirma que a indenização sobre o FGTS tem servido como “moeda de troca” entre trabalhadores e empregado. É de fato comum o acordo no qual a empresa demite o funcionário, paga a indenização, que é devolvida para a empresa, que por sua vez recontrata o funcionário. Há outras distorções na Lei Trabalhista, que devem ser estudadas e discutidas com muito cuidado, diante dos interesses em jogo. A declaração de Jacques Wagner precipitou o fim da lua-de-mel das centrais sindicais com o presidente. Sem falar no estapafúrdio de um ministro do Trabalho, filiado ao Partido dos Trabalhadores, manifestar a vontade de acabar com um dos mais tradicionais mecanismos de proteção do emprego.
Roberto Amaral diz ter sido mal-interpretado, que o que ele defendeu foi o acesso do Brasil a todo e qualquer tipo de tecnologia – aí incluída a nuclear -, mas voltada “para o bem”, sem qualquer intenção bélica. O problema é que agora ele é um ministro de Estado, e suas opiniões – distorcidas ou não – são interpretadas como uma posição oficial do governo brasileiro. E, num mundo cada vez mais paranóico desde o 11 de setembro, as palavras “atômico” ou “nuclear” por si só já dão calafrios.
Quanto ao lançamento do Fome Zero e o frustrante adiamento da visita a Guaribas, o erro foi de cálculo. A idéia era boa, os objetivos teoricamente nobres, mas, jogado repentinamente à vida real, o PT se deu conta de que gastaria uma fortuna pelo símbolo de Guaribas, dinheiro que pode ser muito melhor aproveitado no próprio programa contra a fome. O partido dolorosamente começa a perceber a diferença entre discurso e prática. De agora em diante, é melhor ficar quietinho, discutir e analisar bem cada ação e sua viabilidade antes de espalhar aos quatro ventos.
Mas o mais curioso é que, nos três casos, o PT se atrapalhou justamente com a repercussão das suas idéias – ou, posto de outra forma, com a mídia. A mesma mídia que foi usada com maestria durante a campanha.
Luigi Poniwass
é repórter do Almanaque em O Estado