As pesquisas dos institutos especializados brasileiros têm sido generosas com o governo federal e, em especial, com o presidente Lula. Uma das mais recentes apontava o governo Lula com 69,9% de aprovação, revelando assim uma margem de folga que revela uma popularidade sólida. E um nível de satisfação que faz pensar estejamos vivendo num país muito próximo de um paraíso.
A realidade é que esse tipo de pesquisa, assim como acontecia com os índices de inflação, não têm de parte de uma boa parcela da população a necessária confiabilidade.
Não são poucos os brasileiros que ao longo de toda uma vida nunca foram consultados, o que faz crer que os segmentos da população ouvidos pelos institutos de pesquisas representam setores da população incapazes de refletir o que pensa o todo.
No governo Lula em especial, uma administração conturbada por escândalos repetidos que parece haverem passado indenes pelos filtros políticos, mas que começam a engasgar na Justiça e em outros órgãos independentes de controle externo, os resultados positivos chegam a espantar. E a provocar fundadas dúvidas, senão sobre as respostas colhidas, pelo menos sobre o universo consultado.
O fato inconteste é que se para pessoas consultadas o governo merece aplausos, há a impressão geral de que o país não vai bem. Há violência crescente, insegurança generalizada e a miséria de uma parte da população, que deveria ou poderia estar sendo atendida pelos programas sociais, é gritante. A inflação, mesmo que controlada, não atenua as altas de preços, especialmente na área de alimentos. Há muitas carências para que se possa falar em coerência nos resultados positivos das pesquisas.
Surge agora uma pesquisa que contraria as demais. É do instituto norte-americano Gallup, respeitado em todo o mundo. O trabalho, realizado dentro das técnicas consagradas de auditiva da opinião pública por aquela instituição, revela que 61% dos brasileiros não estão satisfeitos com os esforços do governo para atenuar os problemas da população mais pobre.
Há uma diferença entre a pesquisa que deu aprovação de 69,9% ao governo e esta, que o desaprova com nada menos de 61%. Enquanto a primeira indagava ao entrevistado se aprova o presidente ou sua administração, o Gallup objetivou saber se o brasileiro está satisfeito com a luta do governo para diminuir a pobreza.
Parece claro que no universo consultado faz-se uma clara distinção entre o que seja a atuação de Lula e o que seja a atuação do governo. Lula parece estar conseguindo dissociar a sua imagem da do seu governo. Seria um aplaudido presidente de um governo medíocre. Se nem tanto, pelo menos desconhecido e cuja atuação não é identificada nem reconhecida.
Talvez seja este quadro que leva o atual chefe da nação brasileira a aceitar como sendo o seu governo o condomínio de forças partidárias, em que o PT não raro está sujeito a pressões de outros partidos ou facções, notadamente do PMDB.
Esse quadro deverá influir na sucessão presidencial. Embora Lula já fale em nomes do seu próprio partido para sucedê-lo e em aliados da primeira hora, a opinião pública parece indicar que o presidente funcionará como um poderoso cabo eleitoral, se verdadeiras as pesquisas que o mostram com larga popularidade. E, se mais críveis os números do Gallup, os destinos político-sucessórios independerão dos aplausos fáceis que tem conseguido. Há um contingente majoritário da nação que considera o seu governo ruim, embora o presidente receba, pessoalmente, aprovação. É ver para crer, ou melhor, é crer para ver, já que fundadas dúvidas surgem sobre a verdadeira densidade do prestígio do governo.