Não faz muito tempo comemoramos o Dia das Crianças! Papais e mamães, vovós e vovôs, tios e tias e toda a parentela em torno dos pequenos viu-se às voltas com a indefectível necessidade de presentear, posta pela mídia através de suas convincentes estratégias de marketing. Mas o que quero discutir não são os aspectos da ótica consumista que hoje atravessam nossa vida, ou a validade das datas comemorativas (que na escola chamávamos de ?efemérides? – palavrão desconhecido para alguns!). Vou apenas esboçar alguns argumentos para reflexão quanto à natureza dos presentes que talvez elegemos ou que os ?pequenos? nos tenham pedido.
Convencidos que estamos de vivermos num novo momento histórico marcado pela inexorável presença de tecnologias no cotidiano, possivelmente fomos tentados a escolher algum ?ultra-super-máxi-mega? objeto recheado de avanços científicos materializados! Nada de bonecas e carrinhos estáticos, que ?não fazem nada?! Se cairmos naquela de dar roupinhas e outros adereços, também foram preferidos aqueles com tecidos inteligentes, tintas e aplicações que geram efeitos tridimensionais, com luzinhas que piscam… Maravilha, quanta inovação. ?Tadinhos? dos bichinhos de pelúcia, ursinhos, personagens Disney. Para a era da informação, para o tempo da sociedade informática, do Mickey Mouse só queremos o mouse! É isso! Ou rató, esse novo bichinho eletrônico que basta ?clicar? para nos trazer aspectos do mundo inteiro, exibir pedacinhos do mundo e da vida que nem imaginávamos existir!
Especialmente para as fatias de classe média (ainda existe isso?), a aquisição de computadores e os tantos outros periféricos, de vídeos-jogo, de celulares com infinitas funções, têm passado para a lista de prioridades de aquisição. Queremos dar aos nossos filhos a possibilidade de integração ao mundo da informática, de vir a participar das redes e comunidades, de usar o mouse como prolongamento de sua mão.
Se nós temos essa intenção e as possibilidades de ?plugar? a infância e juventude, devemos, contudo, estar alertas aos usos que farão das tecnologias. Ter o mundo a um clique significa aumento do leque de caminhos para a educação formal e informal, para a vida doméstica e para a escola. Precisamos atentar para as modalidades e lugares de acesso, para a utilização (in) devida que venha a ser construída! Como no mundo real, o virtual também tem sua lógica maniqueísta, uma oposição entre bem e mal, entre o que presta e o que pode ser eticamente condenável, moralmente comprometedor.
Em nossos lares seria aconselhável verificar quais as realidades que chegam à tela do computador que é utilizado, dialogando com as crianças e jovens sobre os conteúdos acessados, auxiliando no estabelecimento de uma crítica com fundamento humanista. Do mesmo modo, com a crescente incorporação das tecnologias educacionais às escolas, não devemos nos abster de questionar os usos didático-pedagógicos que têm sido feitos, verificando se há avanços para uma utilização geradora de aprendizagens ou se os computadores são utilizados numa perspectiva meramente instrucionista! Tanto em casa como na escola a idéia é de que os computadores e a Internet estejam a serviço da ampliação das possibilidades de comunicação, colaborando para que todos os que interagem aprendam, venham a descobrir e exercitar habilidades e que desenvolvam sua criatividade e autonomia.
O saudável desenvolvimento infanto-juvenil nesses tempos cibernéticos solicita nosso olhar atento. Familiares e professores são chamados a dialogar com as possibilidades que as tecnologias trazem para os processos educativos. Não se trata de negar ou apoiar, ir contra ou a favor da incorporação tecnológica ao dia-a-dia. Em maior ou menor grau, estamos imersos e condicionados ao uso dos avanços científicos! Sem jogar fora os bichinhos de pelúcia das prateleiras e armários, podemos trazer o computador para o quarto! Contando com inteligência e sensibilidade humanas, creio que há espaço para o Mickey e para o mouse!
Ademir Valdir dos Santos. Professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação -Mestrado em Educação da Universidade Tuiuti do Paraná – UTP (ademir.santos@utp.br).