As cassações

Estão no ar as campanhas contra e a favor da venda e produção de armas de fogo e munições no Brasil. O tema é controverso, mas uma coisa é certa: a decisão que a população tomar não acabará com a criminalidade, embora até possa reduzi-la.

O mesmo parece ser o destino das cassações na Câmara dos Deputados. Sejam 13, 14, 15 ou 16 os parlamentares que perderão o mandato, além daqueles que, confessando a prática de irregularidades e desejosos de mais uma vez enganar o povo, elegendo-se nas próximas eleições, renunciaram aos seus mandatos, parece certo que a criminalidade política não acabará. E talvez nem diminua, pois remanescem mais instrumentos para roubar o dinheiro do povo, para promover negociatas e para esconder procedimentos contra a ética parlamentar que os que agora são invocados para as poucas punições.

Pelo tamanho e violência da tormenta que atingiu os meios políticos, principalmente as hostes situacionistas, desde o PT e seus aliados, até o próprio governo e a mesa da Câmara, era de se esperar uma varredura para valer. E não para debaixo do tapete, mas escorchando da vida pública o enorme número de aproveitadores que as denúncias e suspeitas fundadas revelaram.

O espírito de corpo, o corpo mole e as artimanhas que a prática política ensina estão fazendo com que nem sejam defenestrados todos os que merecem e é até provável que algum gato pingado que não merece pague o pato. Pior de tudo: nenhuma medida estrutural, seja em nível de Constituição, seja de lei ordinária ou apenas estatutária foi tomada para que o mar de lama não volte a sujar os poderes da República e de alguns estados e muitos municípios.

A legislação eleitoral, apesar da tentativa de remendos provisórios, parece que ficará a mesma. A partidária, idem. E a prática do caixa dois e dos mensalões poderá repetir-se. Só que com maior cuidado, de forma a que sequer possa ser denunciada. E o Brasil continuará sendo no ?ranking? da corrupção mais que pentacampeão.

Talvez o teste da seriedade, insuficiente na abrangência, mas significativo em se considerando a figura atingida, seja a cassação possível, se bem que pouco provável, do deputado federal, ex-presidente do PT e ex-ministro-chefe da Casa Civil de Lula, José Dirceu. Ele era o cabeça do grupo que chegou ao poder. A ele são atribuídas as boas ações e, principalmente, a coordenação das más.

Ele se defende de unhas e dentes, chegando mesmo a recorrer ao Supremo Tribunal Federal contra o processo que lhe movem no Conselho de Ética da Câmara. Usa o argumento, aparentemente correto, de que de falta de ética parlamentar não podem acusá-lo, pois era ministro e não deputado. Como deputado, estava licenciado quando surgiu o mensalão ou que nome se queira dar aos montões de dinheiro de origem ignorada que encheram as burras dos partidos situacionistas e de deputados da base aliada.

Dizemos aparentemente correto, pois a ética que se exige dos parlamentares deve ser de comportamentos que engrandeçam toda sua vida pública. Ser ético antes, durante e depois, a menos que amanhã queiramos sustentar que as portas da política estão sempre abertas para delinqüentes, desde que delinqüam salvaguardados por licenças ou na calada da noite, quando é difícil flagrá-los.

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