Está provado que não se deve subestimar a capacidade inata do presidente Luiz Inácio de vivenciar a política, terreno que pisa com a mesma disposição simples que usa para cobrar um escanteio nas peladas da Granja do Torto. Absorvido o efeito do vendaval de denúncias contra o PT e a base aliada – as últimas duas pesquisas mostram isso com clareza -, Lula deambulou por algumas cidades do Nordeste em estado de graça.
Vistoriando obras realizadas pelo Ministério da Educação para o funcionamento de cursos de extensão universitária, o presidente falou para grupos de sertanejos calejados pelas dificuldades do agreste e pôde reafirmar ao vivo que sua popularidade continua imbatível entre as classes de menor renda e baixa escolaridade.
Numa das obras, Lula se proclamou arrependido de não ter cursado uma faculdade, emendando de bate-pronto que aquilo que não conseguiu realizar quer permitir aos filhos dos pobres. Ou seja, dar acesso a cursos universitários a milhares de nordestinos nas próprias cidades ou muito perto, para evitar gastos com deslocamentos, moradia e sustento.
Uma bela sacada do ministro Fernando Haddad, em continuação ao projeto traçado pelo ex-ministro Tarso Genro. É óbvia a intenção de Lula ao aplicar a lição de moral no PSDB, pois nos oito anos de FHC apenas uma universidade federal foi criada, ao passo que em três anos o governo atual implantou quatro.
Lula teve tempo, ainda, para discorrer com bom humor sobre as dificuldades domésticas do PSDB, até agora engaiolado na discussão sobre quem será candidato à Presidência – Serra ou Alckmin?
Depois de um mergulho nas águas mornas da praia da Lagoa Doce, no litoral do Piauí, e de rezar com os braços para o alto, Lula afirmou que o PSDB está parecendo o PT dos anos 80s, quando todos falavam e ninguém se entendia. Segundo o jornalista de O Estado de S. Paulo que testemunhou o banho de mar matinal, o presidente desopilou o fígado.
Talvez tenha sido essa a maior fisgada no orgulho dos emplumados tucanos, que em poucos dias foram abalados pela revelação dos resultados de duas pesquisas de intenção de voto, nas quais Lula confirmou a recuperação de índices convincentes de prestígio junto à massa.
Enquanto não cometer o ato falho (ou irresponsável) de pedir votos para a reeleição fora do prazo legal, nada pode impedir o presidente de continuar viajando pelo País. Aliás, ele mesmo diz que político faz campanha 365 dias por ano.
