As amargas, não!

O poeta carioca Pedro Nava publicou um livro sob o título As amargas, não! Nele, em refinados poemas, buscou levar ao público só as boas recordações, os fatos positivos, a beleza, o bem, o bom. Há poucos dias, como um dos participantes de um debate na televisão sobre as eleições que hoje se realizam em segundo turno, o deputado federal paulista Delfim Neto, a quem, para não falar sobre suas amargas facetas e passados erros, teremos de reconhecer que é, indiscutivelmente, um homem de elevada inteligência e cultura, usou de um expediente interessante, se bem que não inédito, para definir o embate entre Lula e Serra. Com um copo d?água pela metade sobre a mesa, o ex-ministro da ditadura militar resumiu as discussões. Lula e seu grupo dizem que o copo está meio vazio. Serra e o governo afirmam que está meio cheio. É a diferença entre a visão otimista (o meio cheio) e a pessimista (o meio vazio). Distinção também entre as óticas oposicionista e a situacionista existentes hoje, ontem e que não serão diferentes amanhã, seja quem for o eleito.

Por isso – e porque hoje ocorre o segundo turno, a escolha definitiva do novo presidente, e imagina-se que os eleitores já absorveram o que foi pregado pelos candidatos e tomaram sua decisão – vamos fazer como o poeta e médico Pedro Nava. Só nos referiremos, com destaque, às notícias boas. As amargas, não!

A primeira é que Fernando Henrique deixará um caixa de R$ 83 bilhões para o seu sucessor. É dinheiro suficiente para pagar a folha, de cerca de R$ 6 bilhões, a conta mensal da Previdência, de R$ 7 bilhões, e os R$ 4 bilhões de custeio da máquina administrativa da União. Quem garante é o secretário do Tesouro, Eduardo Guardia. Ele afirma ainda que o dinheiro estará disponível, mesmo que permaneça forte a crise financeira. Acrescenta que, se o nervosismo do mercado diminuir, o caixa poderá ser ainda maior. Garante que o calote na dívida pública poderá ser evitado por pelo menos três meses, pois o atual governo montou um “colchão de liquidez” de R$ 26 bilhões. Outra notícia boa é sobre o fechamento das contas externas do País referentes a setembro. O resultado pode superar as expectativas iniciais do Banco Central e registrar o maior superávit desde 1980. A notícia vem do chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, que estima um saldo recorde de US$ 1,4 bilhão.

O superávit comercial do ano, antes estimado em algo em torno de 5 a 6 bilhões de dólares, deverá fechar entre 9,5 e 10 bilhões. E, segundo analistas, isto não se deve exclusivamente à alta do dólar, mas a um melhor desempenho do setor, com diversificação de mercados e incentivos internos, inclusive o oferecimento de financiamentos às exportações, apesar da retração do crédito externo.

Não podemos nos esquecer, ainda, que a arrecadação do Tesouro Nacional vem sendo altamente positiva, apesar dos baixos níveis de desenvolvimento econômico. Medidas contra a sonegação e a tributação dos fundos de previdência ajudaram para a obtenção de resultados francamente positivos.

Assim sendo, quem ganhar a eleição hoje e assumir o governo em janeiro terá meio copo cheio e precisará preencher apenas a parte que continua vazia. Caberá à nova oposição falar das “amargas”, mostrando a parte vazia do copo.

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