O desastre foi grande para a área econômico-financeira do governo, que sem contar com a arrecadação extra de R$ 40 bilhões em 2008 terá de realizar a proeza de arrumar as contas públicas de tal forma a minimizar o rombo. O ministro Paulo Bernardo, do Planejamento, lamentou que sua receita será cortada em 7%, muito dinheiro, mas garantiu que o governo vai resolver a situação.
Por sua vez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a determinação de não enviar ao Congresso, em 2008, nova proposta de emenda constitucional para restaurar a CPMF, bem como, a priori, não concorda com medidas compensatórias para sanar a perda da fonte lacrada pela coesão dos senadores oposicionistas somados aos independentes da base governista.
A razão mais forte apresentada pelo presidente da República aos ministros Dilma Rousseff, Guido Mantega e Paulo Bernardo é que quaisquer alternativas de compensação forçariam a redução do superávit primário das contas públicas, além dos prejuízos inevitáveis na diminuição da dívida pública em proporção ao Produto Interno Bruto (PIB).
Para arrefecer o abatimento do governo ante a derrota anunciada, da qual não se sabia ao certo, entrementes, a potência da barretada, os ex-ministros Delfim Neto e Armínio Fraga declararam aos jornais que o governo terá condições de viver sem a CPMF. A economia vai crescer bem este ano e a perspectiva de repetir o feito no próximo exercício reforçam a percepção de que a receita tributária será recomposta.
Tanto é verdade que a Receita Federal revelou há algumas semanas que o crescimento econômico trouxe consigo a arrecadação adicional de R$ 40,6 bilhões em impostos e contribuições (uma CPMF anual).
A reflexão mais proficiente que o governo deve fazer nesse momento é sobre a precariedade de seu esquema de articulação institucional, confiado no calor da fogueira ao deputado federal José Múcio (PTB-PE), até então líder do governo na Câmara. Ele assumiu o lugar de Mares Guia, maculado pelo envolvimento pessoal no caixa 2 da campanha do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) ao governo estadual em 1998.
O ministro defenestrado não conseguira avançar grande coisa em termos de articulação no Senado, onde ficou provado que as dificuldades do governo são reais, com a finalidade de aplainar o terreno para aprovação da CPMF. O novo ministro, então, escondeu-se atrás de uma inabilidade acachapante, limitado a uma atuação medíocre e imperceptível que levou o governo a arcar com a subtração desmoralizante do voto de seis senadores da base.