O mundo ainda está profundamente abalado pelo massacre de 32 estudantes e professores da universidade Virginia Tech, nos Estados Unidos. Um estudante de 23 anos de idade, natural da Coréia do Sul, mas que emigrou para os Estados Unidos quando ainda criança, com duas armas de fogo que adquiriu por apenas mil dólares, fuzilou colegas, dentre eles outros estrangeiros ou descendentes de imigrantes, inclusive um jovem também sul-coreano. O noticiário ressalta o criminoso e dois heróis. Um jovem negro procurou defender uma estudante e foi o primeiro a ser assassinado. Um professor sobrevivente do Holocausto, judeu romeno, bloqueou a passagem do assassino para que seus alunos pudessem fugir por outra porta e foi fuzilado por Cho Seung-Hui.
Há um concurso de fatores que cada vez vem sendo mais evidenciado: o assassino tinha histórico de doença psiquiátrica e comportamento tímido-agressivo já notado tanto por colegas quanto por professores. Só não notou nem precisava fazê-lo quem lhe vendeu as armas. O comerciante se disse chocado com o que acontecera com o armamento comprado em sua loja. Mas não se sentia culpado, pois de acordo com as leis da Virgínia as armas poderiam ser adquiridas em qualquer lugar. Até num supermercado. Bastava que o comprador não tivesse passagem pela polícia. Nos Estados Unidos a posse e porte de armas de fogo são direitos garantidos constitucionalmente. Sendo uma confederação, cada estado pode tornar ainda mais fácil a compra do que seu vizinho. É proibido proibir.
O fato nos faz repensar, senão pensar pela primeira vez com maior seriedade, a conveniência da venda de armas de fogo para não profissionais de segurança. Tivemos um plebiscito e o povo, por maioria, decidiu que não desejava abolir a venda de armas de fogo nem sua posse. Apenas foi limitado o porte. A tese em favor do povo armado foi sustentada como sendo um meio para que o cidadão comum e pacífico pudesse se defender dos bandidos. De lá para cá, estatísticas e noticiários nos dão conta que continuam as carnificinas, os enfrentamentos diretos entre quadrilhas rivais ou entre estas e as forças de segurança, além de assaltos à mão armada. A população civil pacífica não ficou mais segura com a possibilidade de se armar. Nem mesmo os policiais, que podem e devem portar armas, e vêm sendo assassinados às dezenas nos grandes centros, em ousadas investidas dos bandidos.
Parece claro que a aprovação da venda de armas não ajudou ninguém, senão os próprios criminosos, pois saindo do comércio, armas de fogo e munições acabam nas mãos de malfeitores. Eles também se abastecem em seus assaltos.
Muito provavelmente alimentou a criminalidade e melhor teria sido se a nossa população tivesse dito um redondo ?não? à venda, quando consultada.
É que, enquanto lá na Virgínia houve o concurso de armas de fogo livremente vendidas a um doente mental, aqui nada impede que também sejam armados débeis mentais e principalmente doentes sociais, pois ninguém duvida que entre os excluídos é que a delinqüência mais cresce, e é das camadas menos favorecidas que geralmente surgem os criminosos. Nossa miséria é caldo de cultura para o desenvolvimento do crime. E a licença para armar-se tornou-se vantagem unicamente para os fabricantes e comerciantes de armas de fogo. Massacres acontecem quase todos os dias no Brasil e, talvez por isso, já não tenham tanta repercussão.