São Paulo, 26 (AE) – O ex-presidente da Câmara de São Paulo, Armando Mellão Neto, reiterou hoje (26) à Polícia Federal denúncias contra o ex-prefeito Paulo Maluf (1993-1996) sobre suposto esquema de propinas e operações de remessa de dinheiro para o exterior. Durante 3 horas, Mellão foi ouvido pelo delegado federal Protógenes Queiroz, que preside inquérito sobre existência de contas em paraísos fiscais, das quais Maluf seria o principal beneficiário. O depoimento foi tomado no gabinete do procurador da República Pedro Barbosa Pereira Neto, que investiga Maluf.
Mellão entregou documentos à PF e ao procurador. Segundo ele, os papéis confirmam suas denúncias. “Armando confirmou tudo o que havia revelado ao Ministério Público Estadual”, disse o advogado Eduardo Mello, que acompanhou Mellão na audiência.
No relato à Promotoria de Justiça da Cidadania – órgão do MPE que investiga desvios de verbas de obras públicas -, feito em maio, Mellão afirmou que caixas de uísque Johnny Walker sem as garrafas, mas carregadas de dólares, chegavam às mãos de Reynaldo e, depois, seguiam para Maluf. Cada caixa continha pelo menos US$ 1,2 milhão, segundo Mellão contou à Promotoria da Cidadania.
Durante a gestão de Maluf como prefeito, cerca de US$ 1 bilhão pode ter sido desviado de obras e tomado o destino de paraísos fiscais. “O depoimento de hoje foi uma reiteração do que Armando disse à promotoria”, insistiu o advogado, que não especificou quais documentos Mellão entregou à PF. “Dão embasamento ao que ele (Mellão) declarou.”
Antes de assumir o mandato de vereador, em 1997, Mellão foi assessor particular de Reynaldo, então secretário de Serviços e Obras do governo Maluf. Mellão foi preso pela Polícia Federal em abril, acusado de tentar extorquir empresários e políticos na mira da CPI do Banestado. Uma de suas vítimas teria sido o próprio Reynaldo, de quem ele teria exigido R$ 2 milhões. Em maio, a Justiça Federal mandou soltar o ex-vereador, que responde a processo.
À PF, Mellão reafirmou que Reynaldo seria o detentor dos direitos da offshore Ber Corporation, nas Ilhas Cayman. Em nome dessa empresa de fachada, Reynaldo pode ter movimentado US$ 250 milhões no Merryl Linch de Miami (EUA), segundo seu acusador. O ex-presidente da Câmara afirmou que a rede de propinas funcionou em obras como a construção do Túnel Airton Senna e da Avenida Água Espraiada. Do total investido no túnel, “cerca de 30% foram destinados ao pagamento de propina”.
Chantagista
“Esse tipo de depoimento, cheio de falsidades, sempre aparece em época de eleição, principamente quando Paulo Maluf está bem colocado nas pesquisas”, reagiu Adilson Laranjeira, assessor de imprensa do ex-prefeito. “Armando Mellão é um notório criminoso e chantagista, preso pela polícia quando tentava extorquir dinheiro de um empresário. É de se admirar que procuradores do Ministério Público Federal ainda percam tempo ouvindo esse meliante.”
O advogado Laércio Benko Lopes, que defende Reynaldo de Barros, declarou que o ex-secretário de Obras “nunca fez nenhuma remessa ilgeal de dinheiro para exterior”. Benko enfatizou: “Repudiamos veementemente essas falsas afirmações realizadas de forma leviana por um ex-presidiário.”