Um clima tenso predomina nos aeroportos argentinos e no governo do presidente Néstor Kirchner desde ontem à tarde, quando a Associação de Pilotos de Linhas Aéreas (APLA) anunciou que se recusava a acatar as ordens do Ministério da Defesa para reduzir o slot – espaço de tempo entre os vôos – de 10 para 5 minutos. Diante da recusa dos pilotos, que alegavam que reduzir o tempo do slot, em um país que atualmente não conta com um radar de grande capacidade (o radar do aeroporto de Ezeiza está desativado desde que foi atingido por um raio, em março), implicava consideráveis riscos de acidentes aéreos, o governo teve que ceder. Agora o temor é de que ocorra um caos aéreo semelhante ao do Brasil.

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O Comando das Regiões Aéreas indicou que a ordem é assegurar um lapso de 5 minutos entre os aviões. Mas admitiu que a separação de 10 minutos poderá ser aplicada, já que o slot "é uma ferramenta flexível; os controladores aéreos adequarão as necessidades do tráfego que surjam". O sistema de controle, sem o radar de Ezeiza, não pode administrar o espaço aéreo por localização e, portanto, os aviões devem estar distanciados uns dos outros por intervalos de tempo.

As companhias aéreas estão furiosas com a flexibilidade dos intervalos entre os vôos. Elas argumentam que desta forma não podem dar previsibilidades nas chegadas e partidas dos aviões aos passageiros. Para complicar, a meteorologia prevê céus nublados para os próximos dias, o que pode contribuir para provocar mais atrasos nos vôos.

Já os funcionários dos guichês das companhias aéreas ameaçaram entrar em greve contra as agressões infligidas pelos passageiros furiosos com os atrasos nos vôos. Os funcionários exigem que as empresas garantam segurança trabalhista. A paralisação foi desativada pelo governo Kirchner, que ordenou conciliação obrigatória aos funcionários e às empresas envolvidas.

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Militares e civis

O controle aéreo nos aeroportos argentinos é assunto de debate desde meados do ano passado, quando um filme – o Força Aérea SA – produzido por um ex-piloto, Enrique Piñeyro, mostrou ao grande público o péssimo funcionamento do sistema, as falhas constantes nos radares, os acidentes que ocorrem e a corrupção da administração dos aeroportos, comandado pela Força Aérea desde 1966.

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O escândalo causado pelo filme levou o Kirchner a anunciar a remoção do controle aéreo das mãos dos militares e repassá-lo para a administração civil. O anúncio não causou rebeliões no setor militar, já que as Forças Armadas, ao longo da última década e meia, perderam influência e poder político. De quebra, costumam possuir baixos índices de prestígio entre a população.

O processo de passagem dos militares aos civis levaria todo o ano 2007 para poder ser implementado. Mas, um novo incidente alterou os prazos. Desta vez foi o raio que caiu no aeroporto de Ezeiza e deixou o país sem seu único radar. Imediatamente, os pilotos de uma companhia aérea decidiram entrar em greve, já que não pretendiam arriscar-se a voar sem segurança. Para agravar o cenário, surgiram denúncias de que dois aviões haviam quase colidido por causa das falhas do radar de Ezeiza.