A Argentina realiza hoje eleições gerais para a escolha de presidente e vice-presidente, 130 deputados (metade da Câmara) e 24 senadores (um terço do Senado). Segundo pesquisas, a presidente Cristina Kirchner, que encabeça a chapa presidencial com o atual ministro de Economia, Amado Boudou, pela Frente pela Vitória (FVP), teria uma cômoda reeleição com entre 52% a 57% dos votos válidos, um porcentual bem distante do segundo colocado, o socialista Hermes Binner, que teria apenas entre 11% a 15,5%. Para ser eleita no primeiro turno, a chapa precisa obter 45% dos votos ou mais de 40% com uma diferença maior a 10% do segundo candidato.
A vantagem de Cristina sobre os adversários não só consolida a hegemonia de seu poder, mas dilacera a já pulverizada oposição. “Cristina vai ganhar porque é melhor do que os outros candidatos. É muito melhor. Nenhum foi eficiente para captar os votos da oposição oferecendo melhor proposta”, disse o acadêmico e sociólogo Ricardo Sidicaro, autor do livro “Los três peronismos”.
Esta é a sétima eleição presidencial que se realiza no país desde o retorno da democracia, em 1983. Mas tem sido apontada como a eleição mais apática destes últimos 28 anos por causa do clima “já ganhou” ,que se instalou no governo e nas ruas, e foi um nocaute aos desnorteados opositores – Cristina obteve 50,24% na votação das eleições primárias de 14 de agosto.
O sistema eleitoral na Argentina é primitivo e de difícil compreensão para os brasileiros. Em qualquer lugar do mundo, as eleições são reguladas pela Justiça Eleitoral, mas, na Argentina, quem regula é o Estado. A Câmara Nacional Eleitoral é subordinada ao Ministério do Interior, que dispôs dos horários e tempo da propaganda pública gratuita no rádio e na televisão na medida exata para beneficiar o governo. Além disso, as cédulas, que parecem panfletos e deveriam ter o controle da Justiça Eleitoral, são confeccionadas e distribuídas pelos partidos políticos. Os partidos as deixam soltas, livremente na sessão eleitoral. Qualquer eleitor que entrar na sessão tem acesso às células, o que costuma gerar problemas de furtos para prejudicar um ou outro candidato.
Existem cédulas quilométricas devido ao sistema de candidaturas por lista fechada, conhecida no país como “lista sábana (lençol, em português)”. As listas são ordenadas pelos partidos e encabeçadas pelos políticos mais conhecidos, os que puxam os votos para os candidatos das listas. São múltiplas listas dentro de um mesmo partido porque há diferentes coligações nacionais, provinciais (estaduais) e municipais. Muitas vezes, quem está votando, guiado pelos nomes dos primeiros das listas, não consegue saber bem em quem está votando.
Também há o famoso “corte de boleta” (corte de cédula), pelo qual o eleitor vota, por exemplo, em Cristina Kirchner para presidente, mas corta o resto dos candidatos aos demais cargos que seguem a lista dela. O contrário também é possível: o eleitor pode votar em seus candidatos preferidos à Câmara ou ao Senado e cortar o candidato a presidente. Para finalizar a votação, o eleitor, muitas vezes, acaba ficando com várias cédulas nas mãos para colocar no envelope e depositá-lo na urna.