O comportamento racista da torcida do Quilmes está sendo alvo de críticas da sociedade argentina, que começa a considerar que esse pequeno time está passando dos limites em seu comportamento com o jogador Grafite, do São Paulo. A reação contra o Quilmes, time inexpressivo, mas um dos mais antigos da Argentina, fundado em 1887, aumentou desde o domingo, quando a torcida "cervecera" (cervejeira, apelido do Quilmes, por causa da famosa cerveja homônima) colocou cartazes com ofensas racistas contra Grafite e o técnico do River, Leonardo Astrada.
No jogo contra o poderoso rival, no Estádio Monumental de Núñez o Quilmes levou de 4 a 0. Não houve sentimentos de pena por parte dos analistas esportivos.
O tradicional e sóbrio jornal "La Nación", que manteve discrição no caso Desábato, desferiu críticas fortes contra o Quilmes, com a manchete "Com as bandeiras da intolerância", em referência às faixas colocadas pela torcida com os dizeres "Grafite macaco". Outra, irônica com os motivos da detenção de Desábato, em uma reprodução da camiseta do São Paulo, com o número 9, para evitar a palavra "negro" dizia ironizando "Branca de Neve".
Além disso, as 5 mil pessoas da torcida do Quilmes entoaram o cântico "el que no salta es un negro de Brasil" (aquele que não pula é um negro do Brasil). O racismo do Quilmes também esteve direcionado aos próprios compatriotas. Neste caso, a fúria dos "cerveceros" atingiu o técnico do River Plate, Leonardo Astrada, que entre seus amigos é chamado carinhosamente de "negro", por seus cabelos pretos. A torcida do Quilmes gritou: "Negro de merda."
No Quilmes existia irritação de Astrada por causa da decisão de manter o jogo marcado para este domingo. O Quilmes havia pedido adiamento do jogo alegando que os jogadores haviam retornado estressados do Brasil. Mas Astrada negou-se. Como vingança, além das palavras racistas, a torcida também entoou cantos ao seqüestro do pai de Astrada, em 2004, festejando o crime.
O jornal "Página 12", de linha progressista, mas que até agora havia dado pouco espaço ao assunto, destacou em manchete: "Para defender Desábato, os torcedores mostram sua pior face". Segundo o jornal, "longe de exibir uma postura de arrependimento, de reflexão ou algo similar, os torcedores quilmenhos mostraram sua pior cara racista".
Desábato, que até o surgimento do escândalo era um desconhecido que inicialmente havia ficado com a imagem de vítima do rigor da Justiça brasileira, começou a ser visto de forma negativa no seu próprio país.
"Estas bandeiras com os dizeres racistas não tem nada a ver com o espírito esportivo", atacou o colunista de futebol Marcelo Fiasche, do canal de TV "Todo Notícias".
Diversas pesquisas confirmam que os argentinos admitem os sentimentos racistas na sociedade, enquanto colunistas pedem um mea culpa nacional. Mas destacam que o próprio Brasil tem tarefas pendentes nessa área, pois consideram que o país vizinho possui graves problemas de racismo.