Inspirados pelo sucesso brasileiro no campo do voto eletrônico, grupos de parlamentares argentinos pretendem convencer o governo do presidente Néstor Kirchner para que este implemente as urnas informatizadas. A idéia é que elas sejam utilizadas – pelo menos de forma parcial – nas eleições para as assembléias legislativas e parlamentares do ano que vem. O plano destes parlamentares é que o voto eletrônico amplie-se gradualmente, e que seja utilizado nas eleições para o cargo de chefe de governo da cidade de Buenos Aires em 2006 e as eleições para presidente, governadores e Congresso Nacional de 2007.
No sistema político argentino, no entanto, existem duras resistências a mudanças eleitorais. Os poderosos caudilhos do interior temem que a implementação do voto eletrônico reduza suas chances de fraudes eleitorais, ainda hoje freqüentes neste país. As lideranças políticas, embora declarem a "admiração" pelo moderno sistema brasileiro, pouco fazem para aplicá-lo na Argentina.
Para modificar este cenário, o presidente da Comissão de Segurança Interior da Câmara de Deputados, Cristian Ritondo, junto com o presidente do Partido Compromisso por el Cambio (Compromisso pela Mudança), o empresário Mauricio Macri, convidaram o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do Brasil, ministro Sepúlveda Pertence, para uma palestra em Buenos Aires sobre o uso das urnas eletrônicas.
Horas antes de retornar ao Brasil, Sepúlveda Pertence, disse que havia notado muita receptividade à idéia do uso da urna eletrônica em diversos partidos argentinos. "Não é complicado fazer a adaptação ao sistema argentino. Já houve adaptações de sucesso no Paraguai e Equador", disse.
Segundo Pertence, a província de Buenos Aires (que concentra um terço da população do país) "parece muito engajada nesse movimento". O ministro ofereceu aos argentinos – e a outros países latino-americanos – a disponibilização de urnas brasileiras como forma de "contribuir para a consolidação da democracia no continente". Pertence declarou que pretende levar a experiência brasileira no setor à toda a região.
Sobre a possibilidade de aplicar o uso das urnas brasileiras nas eleições dos Estados Unidos, Pertence afirmou que as chances não são significativas, já que o sistema eleitoral americano é muito descentralizado. "Lá existem 409 sistemas diferentes. Eles também contam com alguns sistemas eletrônicos. No entanto, consideramos que o nosso é melhor".
O sistema eletrônico, por meio de urnas brasileiras, foi utilizado de forma experimental em sete pequenos municípios da província de Buenos Aires nas eleições de abril de 2003. Na ocasião, somente dois candidatos presidenciais (nenhum dos três principais) defenderam a idéia de uma aplicação mais intensiva das urnas.
Dezoito urnas também foram utilizadas durante uma consulta popular na cidade de Mendoza, em outubro deste ano, sobre o plano de segurança urbana.