O governo do presidente Néstor Kirchner vai continuar aplicando restrições à entrada de calçados brasileiros no mercado argentino. Na terça-feira, a ministra da Economia, Felisa Miceli mostrou-se dura e afirmou que as restrições para os setores ‘sensíveis’, incluindo calçados e eletrodomésticos da linha branca, continuarão valendo. No entanto, mostrou-se disposta a continuar o diálogo sobre as restrições.
Ontem, o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio do Brasil, Ivan Ramalho, reuniu-se com o secretário de Indústria e Comércio da Argentina, Miguel Peirano, para tentar avançar nas negociações.
Peirano não abre mão das restrições. Mas, segundo Ramalho, propôs que os calçados brasileiros mantenham-se na atual participação de 75% do total de calçados importados pela Argentina. "Isso seria um parâmetro para a negociação", disse Ramalho. "Continuamos acreditando que a contribuição para o desenvolvimento da indústria argentina já foi dada pela indústria e pelo governo brasileiro.
Ao sair da reunião, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, disse que os empresários brasileiros iam embora ‘75% satisfeitos’.
Até 30 de junho esteve em vigor um acordo que limitava a presença dos calçados brasileiros no mercado argentino em 13,5 milhões de pares neste ano. O acordo – chamado de ‘restrição voluntária’ – foi fechado em 2005 e era a única opção que restava aos empresários, sob a ameaça de bloqueio total aos calçados brasileiros.
Agora, os argentinos querem renovar esse acerto, mas os empresários brasileiros se opõem. Segundo Ramalho, o "governo argentino está apoiando as restrições voluntárias. Os empresários brasileiros têm concordado em participar das negociações, mas sem fixar um novo acordo de limitação". As discussões vão continuar no mês que vem, em Brasília.
Embora a indústria argentina de calçados já tenha se recuperado e aumentado a produção, empresários do setor, respaldados pelo governo Kirchner, alegam que é preciso limitar a importação para evitar uma nova crise.
O setor de calçados é um dos que mais causaram conflitos na relação bilateral desde 1998, quando os industriais argentinos começaram a alegar que estava ocorrendo uma invasão de produtos feitos no Brasil.
Em 1999, com a desvalorização do real, as reclamações aumentaram. E, com a crise financeira, social e econômica de 2001-2002, quando o crédito às indústrias desapareceu e o consumo despencou, a gritaria foi generalizada. Os argentinos alegavam que empresas brasileiras estavam depredando o setor e que precisavam de um tempo para se recuperar. De lá para cá, a economia argentina cresceu 9% por ano e, em 2006, a média deve ser mantida. Mas governo e empresários continuam pedindo tempo ao Brasil.
Outro setor que reclama de supostas invasões brasileiras é o de produtores de suínos. A Associação Argentina de Produtores Suínos (AAPP) pediu à ministra Miceli que o governo limite a importação de carne suína brasileira. Segundo a AAPP, o produto que sai do Brasil é responsável pela queda de 20% dos preços no mercado argentino.