A diplomacia brasileira não consegue contentar a nenhum de seus parceiros comerciais. Hoje (22), a Argentina fez duras críticas contra o Itamaraty por revelar suas propostas de abertura do Mercosul para a União Européia (UE) no setor automotivo. Bruxelas declarou que a proposta do bloco sul-americano, anunciada pelo Brasil como algo que poderia encaminhar as negociações para uma conclusão, apresenta pouca novidade em relação aos últimos anos do processo e que terminou em um impasse.

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Na terça-feira, o Mercosul se reuniu com a UE depois de mais de um ano sem negociações para a criação de uma área de livre comércio. O Brasil afirmou que trouxe para a mesa uma proposta de acordo. De um lado, ofereceria uma redução mais rápida das tarifas de importação para bens industriais, maior abertura de seu setor de serviços financeiros e marítimos. Como pagamento, esperava uma abertura dos europeus no setor de carnes, milho, trigo, banana e etanol.

Segundo Peter Power, porta-voz do comissário de Comércio da Europa, Peter Mandelson, a proposta do Mercosul "trouxe pouca novidade" em relação ao que já existia antes. Os europeus deixaram claro que somente irão concluir as negociações com o Mercosul depois de saberem o que terão de conceder na Organização Mundial do Comércio (OMC). Mesmo assim, a Comissão Européia promete estudar a proposta sul-americana e agendará uma reunião antes de maio para analisar o processo.

Mas não foram apenas os europeus que não mostraram entusiasmo. Os argentinos, principais parceiros comerciais do Brasil no Mercosul, criticaram o Itamaraty por ter revelado alguns pontos da proposta, como a maior abertura do setor automotivo. Em entrevista à Agência EFE, o secretário de Comércio da Argentina, Alfredo Chiaradia, criticou o Brasil por ter vazado informações como a da abertura do setor automotivo. "O Brasil pode falar sozinho se quiser, mas não em nome de todo o Mercosul. Este ponto (a possibilidade de abrir o setor automobilístico) não foi tocado na reunião", disse à EFE.

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Pela antiga proposta do Mercosul aos europeus, o setor automotivo passaria ao livre comércio com os europeus em 18 anos O Brasil indicou que esse período poderia ser reduzido. "Assim como a UE tem uma abertura limitada no setor agrícola, nós também temos direito a que alguns de nossos setores sejam preservados", concluiu Chiaradia.

Na terça-feira, o embaixador brasileiro Regis Arslanian, que lidera a delegação do Itamaraty para as negociações com a Europa garantiu à Agência Estado que não havia nada que o Brasil gostaria de oferecer que estivesse em conflito com as propostas argentinas. Ele também garantiu que tudo o que foi apresentado foi trabalhado dentro do Mercosul antes. A falta de coordenação no Mercosul, porém, é um tema que internamente os europeus têm discutido, já que avaliam que estão negociando com um bloco que nem sempre fala de forma coordenada.

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