É de se reconhecer que um país como os Estados Unidos, depois de sofrer um mega-atentado, tome providências extremas de segurança. É duvidoso que essas providências devessem incluir uma guerra contra o Afeganistão e outra com o Iraque, quando em nenhum daqueles países foram encontrados os culpados pelo audacioso ato terrorista ou armas de destruição em massa. Mas essas foram as escusas para os atos bélicos que deixaram grande número de vítimas civis, mulheres e crianças. Vítimas também estão sendo os direitos civis nos próprios Estados Unidos, hoje uma nação com medo, agindo com truculência contra toda pessoa que seja de origem árabe ou de religião muçulmana. E aí não escapam nem cidadãos norte-americanos. Há invasão de privacidade em nome da segurança, já objeto de inúmeros e veementes protestos. Praticam-se indiscutíveis arbitrariedades, sempre justificadas pelo medo.

Muitas das providências que as autoridades norte-americanas consideram necessárias para a segurança de seu país nos afetam. Não nos referimos à repulsa que os brasileiros sentiram quando os Estados Unidos atacaram o Afeganistão e o Iraque, mesmo considerando-se que ambos os países eram governados por abomináveis ditaduras, no primeiro de natureza religiosa e, no segundo, política. Somos favoráveis à livre determinação dos povos e esperávamos que, para justificar os ataques a tais países, os Estados Unidos pelo menos provassem as alegações que fizeram. Mas não provaram.

Queremos nos referir aos prejuízos que as medidas exageradas de segurança estão causando à nossa indústria do turismo; as empresas operadoras e agências de viagens brasileiras, perdendo clientes, que, diante dos obstáculos, desistem de visitar os destinos turísticos tradicionais norte-americanos.

Agora, surge uma restrição a mais, injustificável, que é a exigência de visto de entrada nos Estados Unidos até de quem está se dirigindo a outro país, em vôos com escala na grande nação norte-americana. A obtenção desse visto no Brasil só pode ser conseguida na embaixada dos EUA em Brasília e em consulados que só existem em São Paulo, Belo Horizonte e Recife.

Um paranaense, para obter o visto para viajar para os Estados Unidos ou apenas ter seu território como ponto de escala, tem de locomover-se para São Paulo, lá ter uma entrevista com as autoridades norte-americanas e sujeitar-se a uma aprovação lotérica, pois se tiver seu pleito rejeitado, nenhuma satisfação lhe será dada. E já se tem notícia de pessoas rejeitadas sem nenhuma razão plausível.

Nada disso sai de graça. O visto custa US$ 100, mais despesas de viagem, estada em São Paulo, alimentação, etc. Ir para os Estados Unidos se tornou uma empreitada cara e um desafio. Embora se trate de um país belíssimo, com centenas de atrações, além de ser a meca dos negócios, visitá-lo ou apenas passar por ele é, cada dia mais, um desafio. E as exigências, muitas vezes, um desaforo. Mesmo antes do atentado de 11 de setembro, as autoridades de imigração norte-americanas vinham agindo duramente, para não dizer arbitrariamente. Jornalistas brasileiros, por exemplo, quando convidados para eventos de divulgação turística dos próprios Estados Unidos, mesmo tendo visto múltiplo de até doze anos, eram barrados nos aeroportos e obrigados a pagar um segundo visto (de trabalho), sob a ameaça de expulsão imediata.

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