Yasser Arafat encontra-se em estado de morte cerebral, em coma profundo e irreversível, mas clinicamente está ainda vivo, apesar da noticia de sua morte ter sido espalhada pelo mundo, após ter sido equivocamente anunciada pela televisão israelense e algumas agências internacionais.
Diante dos fortes rumores que circularam no final da tarde sobre o desaparecimento do presidente da Autoridade Palestina, mais de uma centena de jornalistas de todo o mundo se concentrou diante da porta principal do hospital militar de Percy, nas imediações de Paris, para registrar o comunicado médico anunciado pelo general Christian Estripeau, porta voz e responsável pelo setor de comunicações do centro médico-hospitalar. Yasser Arafat encontra-se sob perfusão sanguinea e respiração artificial, como se estivesse sendo mantido em vida enquanto são acertados detalhes de sua sucessão imediata e de seu sepultamento, diante da negativa do governo de Ariel Sharon intransigente em não autorizar que ele seja enterrado em Jerusalem.
Quando todos esperam que sua morte fosse anunciada oficialmente, o porta voz do hospital de Percy surpreendeu a todos lendo, às 17h45, um comunicado suscinto, de apenas algumas frases, justificadas por um pedido de discrição de sua mulher, Souha, encerrado com a frase : “O senhor Yasser Arafat não faleceu”. O comunicado reconhece que a situação clínica do paciente Arafat tornou-se bem mais complexa nas últimas horas e que seu estado de saúde exigiu sua transferência para um serviço de terapia mais adaptado à sua patologia.
Duas horas antes, o presidente Jacques Chirac havia efetuado uma visita a Arafat no hospital de Percy, tendo o Palácio do Eliseu confirmado que durante a visita, o presidente da Autoridade Palestina encontrava-se vivo. O presidente francês esteve com Arafat pouco antes de seguir para Bruxelas, onde participou de uma reunião da União Européia. Ele permaneceu alguns minutos de mãos dadas com o paciente e conversou com os médicos da equipe do professor Thierry de Revel. O Palácio do Eliseu não revelou se o dirigente palestino estava ou não consciente durante a visita do “doutor Chirac”, forma como Arafat sempre se referiu ao presidente da França.
O policiamento em torno do hospital foi reforçado com a presença de tropas de choque, CRS, atiradores de elite no teto do hospital, para evitar que possam ocorrer manifestações e turbulências na ordem pública, no momento em que sua morte for efetivamente anunciada. Mas poucos simpatizantes se deslocaram até a porta do hospital, além dos jornalistas, diante do frio que começa a fazer em Paris nesse outono, uma temperatura de poucos graus acima de zero. Na noite passada, o estado de saúde de Yasser Arafat era considerado desesperador, admitido mesmo pelos mais próximos e que até então procuravam minimizar a gravidade de seu estado. Durante a tarde os médicos o submeteram a um encefalograma, um exame normalmente efetuado quando o paciente já não apresenta sinais evidentes de vida.
Antoine Basbous, diretor do Observatório Árabe, e a especialista em mundo árabe Nadia Benjaloum acreditam que o anúncio da morte possa estar sendo atrasado com o objetivo de melhor preparar sua sucessão e sepultamento. Como se sabe, a tradição muçulmana prevê que os mortos devem ser sepultados o mais rapidamente possível. No caso de o falecimento de Yasser Arafat ocorrer nas próximas horas ele teria que ser enterrado ainda hoje, antes do pôr do sol.
Essa não é, entretanto, a opinião de Kattar Abou Diab, diretor da revista ” Cahiers de l`Orient”, convencido que o corpo de Arafat vai permanecer muito tempo no necrotério do hospital de Percy, em Paris, enquanto se decidirá o local onde ele deverá ser sepultado. Segundo Nadia Benjaloun, Arafat foi transferido tarde demais para Paris , tendo demorado muito para tratar de sua anomalia sanguinea, detido na Moucata, em Ramallah, pelos israelenses. Os aparelhos que mantêm o paciente ainda em vida poderão ser desligados no momento mais oportuno, mas já não há mais esperança de recuperação.
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