Com a demissão do ministro do Petróleo da Arábia Saudita, Ali al-Naimi, uma das figuras mais poderosas do setor no mundo, o posto saudita como o maior fornecedor de petróleo bruto para a Ásia está perto de ser perdido. Ainda assim, analistas consideram que o posicionamento do reino de não congelar a produção num esforço para manter a participação de mercado deve continuar.
A competição crescente de países como a Rússia e o Irã está ameaçando o poder detido há muito tempo pela Arábia Saudita sobre mercados como a China, o Japão e a Índia. Essas forças competitivas, que se intensificaram com a queda nos preços do petróleo, mostram os desafios enfrentados por Naimi em seus dois últimos dias como ministro. Ele foi demitido no sábado e substituído por Khalid al-Falih, da companhia estatal petrolífera Saudi Aramco.
Analistas consideram que Falih deve continuar a política de Naimi ao tentar preservar a participação de mercado da Arábia Saudita, ainda que isso signifique contribuir para o excesso de oferta mundial. O país enfrenta pressão de membros menores da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) para reduzir sua produção desde meados de 2014.
“Khalid Al-Falih acredita na política implementada por Naimi e não vê necessidade para que a Arábia Saudita intervenha no balanceamento do mercado”, escreveram em relatório os analistas da firma Energy Aspects. Falih “fez clara oposição a cortes unilaterais ou congelamento da produção”, comentaram.
A demissão de Naimi coloca ainda o príncipe Mohammed bin Salman, o segundo na linha para o trono, no controle da política energética. Com isso, a avaliação é de que seja ainda mais improvável que a OPEP vá mudar suas táticas no próximo mês, disseram autoridades do cartel.
O príncipe adotou uma linha dura com relação à política de petróleo, dobrando a aposta na estratégia do reino de manutenção de uma produção elevada diante do colapso dos preços. Pessoas da OPEP afirmam que o anuncio de Falih como novo ministro torna improvável que a Arábia Saudita advogue por uma mudança de política no grupo de 13 nações que controla um terço da produção mundial.
A política saudita de manter a produção em alta tem tido efeito misto na Ásia. Refinarias asiáticas ainda buscam a maior parte do petróleo comprado por elas em produtores do Oriente Médio, frequentemente em razão de contratos de longo prazo que ainda estão em vigor. Apesar disso, as importações de petróleo da China como um todo crescem mais rápido do que o importado pelo país diretamente da Arábia Saudita. A fatia do reino saudita no total das importações chinesas caiu de 15,9% para 15% no primeiro trimestre de 2016 ante igual período do ano anterior.
A proximidade geográfica da Rússia dá ao país uma vantagem sobre outros produtores de petróleo nas vendas para a China, disse o analista de energia do BMI Research Peter Lee. Além de competirem fortemente por preço, os ofertantes russos estão tornando negócios com eles mais atrativos. A estatal Gazprom Neft permitiu esse ano que os consumidores chineses pagassem usando yuan em vez de dólares.
Os sauditas também tem perdido espaço para o Japão, país que importou 33,7% de seu petróleo em março da Arábia Saudita, uma queda ante os 37,6% do mesmo mês do ano anterior. A fatia dos russos cresceu em 1 ponto porcentual, para 7,6%, de acordo com dados divulgados pelo governo.
O Irã também emergiu como outro rival chave para os sauditas em meses recentes. O país, que ficou de fora do mercado internacional por conta de sanções, começou a retomar suas exportações. Analistas reconhecem que a Ásia será o maior campo de batalha onde o Irã pode ganhar espaço dos sauditas e outros grandes fornecedores. Fonte: Dow Jones Newswires.