O aquecimento global desenfreado devastará a economia do planeta na mesma escala das guerras mundiais ou da Grande Depressão, alertou um estudo divulgado nesta segunda-feira (30) em meio aos esforços do governo britânico de convencer os céticos de que o ambientalismo e o crescimento econômico podem e devem andar lado a lado.
Ao apresentar o relatório ao público, o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair, salientou que as persistentes mudanças climáticas fatalmente custarão ao mundo algo entre 5% e 20% do PIB global a cada ano. Blair defendeu ações "ousadas e decisivas" para reduzir as emissões de gás carbônico e evitar os piores efeitos do aumento da temperatura média no planeta.
O autor do relatório, sir Nicholas Stern, um destacado economista do governo, calcula que uma ação imediata para conter a emissão de gases causadores do efeito estufa limitaria os danos econômicos a cerca de 1% do PIB mundial ao ano. "Isto é gerenciável", afirmou. "É possível crescer e ser ao mesmo tempo ecologicamente correto", prosseguiu Stern.
O relatório de 700 páginas – parte de um esforço do governo britânico para quantificar o custo econômico do aquecimento global – leva à conclusão de que as evidências mostram que "ignorar as mudanças climáticas certamente prejudicará o crescimento econômico do planeta". "Nossas ações ao longo das próximas décadas poderão criar riscos de uma grande interrupção das atividades econômicas e sociais, ainda neste século ou no início do próximo, numa escala similar à das grandes guerras ou da depressão econômica da primeira metade do século passado", escreve Stern, um ex-economista-chefe do Banco Mundial.
Por sua vez, Blair enfatizou que a comunidade científica concorda que o planeta está esquentando e que a maior parte da culpa recai sobre as emissões de gases causadores do efeito estufa. "Não há dúvidas de que, se a ciência estiver correta, as conseqüências para nosso planeta serão literalmente desastrosas. Esse desastre não fará parte de uma obra de ficção científica sobre o futuro, mas sim de nossa vida", declarou Blair. "A não ser que ajamos agora, essas conseqüências desastrosas serão irreversíveis", concluiu.
Estados Unidos
Enquanto isso, Gordon Brown, secretário britânico do Tesouro e provável sucessor de Blair, anunciou hoje que o ex-vice-presidente americano Al Gore para a posição de conselheiro do governo sobre mudanças climáticas. Al Gore, do Partido Democrata, foi o adversário do atual presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, nas eleições presidenciais de 2000. Quando era vice de Bill Clinton, Gore foi um dos articuladores da adesão americana ao Protocolo de Kyoto.
O estudo elaborado por Stern também contrasta amplamente com a postura de "esperar para ver" do atual governo americano. Logo em seu primeiro ano de mandato, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, retirou seu país – disparado o maior emissor mundial de gases causadores do efeito estufa na atmosfera terrestre – do Protocolo de Kyoto. O tratado ambiental estabelece metas para a redução de poluentes. Segundo Bush, o pacto prejudicaria a economia americana. O protocolo foi elaborado em Kyoto, no Japão, em 1997 e expira em 2012.
Em seu relatório, Stern elogia a postura de Estados americanos como o da Califórnia, que estabeleceu suas próprias metas e políticas para combater o aquecimento global. Blair assinou este ano um acordo com o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, para o desenvolvimento de novas tecnologias para combater o problema. O tratado é o primeiro a impor restrições à emissão de poluentes dentro dos Estados Unidos.
Stern salienta, porém, que não importa o que façam a Grã-Bretanha, os Estados Unidos ou o Japão para reverter os efeitos do aquecimento global se não houver adesão por parte da China e da Índia, dois países em franco desenvolvimento econômico que consomem cada vez mais recursos energéticos. "A Grã-Bretanha está fazendo mais do que participar. Ela representa 2% das emissões mundiais. Mesmo que a Grã-Bretanha não emitisse mais nenhum poluente a partir de hoje, em menos de dois anos o aumento das emissões da China anularia essa diferença. Portanto, trata-se de uma definição de interdependência global. Precisamos agir juntos", enfatiza o documento.