Apuração oficial deve confirmar vitória de Calderón no México

Cidade do México – É altamente improvável que a apuração oficial do pleito presidencial de domingo no México, que começará amanhã (5) nos 300 distritos eleitorais do país, tire a vitória que a contagem preliminar deu ao candidato conservador, Felipe Calderón Hinojosa, do Partido de Ação Nacional (PAN).

Computadas 98,45% das urnas, Calderón tinha a mais 402 mil votos ou 1 ponto porcentual, que o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, do Partido Revolucionário Democrático (PRD).

Por variadas razões, ficaram fora da contagem preliminar cerca de 627 mil votos depositados em pouco menos de 2 mil das 130.500 seções eleitorais que funcionaram domingo, segundo estimativa da unidade de pesquisas eleitorais do jornal Reforma. Lourdes López Flores, uma das 12 conselheiras do Instituto Federal Eleitoral (IFE), o TRE mexicano, disse hoje que votos não registrados na contagem preliminar serão incorporados na apuração definitiva. Para inverter os resultados iniciais a seu favor, López Obrador teria que obter perto de 83% dos sufrágios não contados. As projeções indicam que ele terá 35%, na melhor das hipóteses.

Na noite de domingo o candidato do PRD se proclamou vitorioso. Segunda-feira, denunciou "irregularidades" variadas e o suposto sumiço de 3 milhões de votos, sem dar provas. Hoje, reiterou que contestará o resultado oficial na Justiça.

López Obrador é, no entanto, voz isolada entre os que disputaram a eleição com Calderón. Os dois candidatos nanicos, os centristas Patricia Mercado e Roberto Campa, que somaram menos de 4% dos votos, já reconheceram a vitória do líder conservador. Campa exortou todos os candidatos a acatar o resultado oficial, que deve ser proclamado pelo IFE entre amanhã e domingo, depois de afirmar que a apuração preliminar mostrou "uma tendência irreversível ao triunfo de Calderón".

Mais significativo ainda foi o discurso de concessão da vitória ao líder panista feito por Roberto Madrazo, o candidato do Partido Revolucionário Institucional (PRI). Sob pressão dos 16 governadores do partido, que na tarde do domingo orientaram os priistas a descarregar seus votos em Calderón, Madrazo, que teve apenas 21% dos votos, afirmou que "o processo eleitoral foi legal, legítimo, claro, transparente e, (a julgar) pelas atas eleitorais em poder do PRI, não deve haver dúvidas de qual é o resultado".

A iniciativa do PRI, um partido que monopolizou o poder federal no México por sete décadas roubando eleições, foi politicamente crucial porque reduziu o espaço para que o ex-priista López Obrador levante o argumento da fraude – o que ele ainda não fez – e mobilize seus simpatizantes na Cidade do México, onde foi prefeito e é popular, para tentar ganhar nas ruas o que não conseguiu nas urnas.

O comportamento civilizado do PRI reflete, também, o reconhecimento por parte de seus dirigentes de que o partido sofreu uma debacle sem precedentes no domingo e terá agora que se reinventar como força política centrista pois "corre o risco de desaparecer", como admitiu sua ex-presidente Dulce Maria Sauri na segunda-feira. Madrazo recebeu apenas metade dos votos dado ao candidato priista nas eleições presidenciais de 2000, Francisco Labastida. Ele perdeu até na seção eleitoral onde votou e viu a representação de seu partido no Congresso encolher para a terceira posição, atrás do PAN e do PRD. O PRI terá apenas 113 dos 500 deputados federais e 37 das 168 cadeiras do Senado. Trata-se de uma queda de representação de quase 50% nas três eleições legislativas realizadas desde 1997, quando o partido estava no poder. Trata-se, também, de um claro incentivo para que os priistas, interessados em manter sua relevância e influência na política mexicana, aceitem o chamado à cooperação reiterado hoje por Calderón, que não terá o controle do Congresso e precisa formar um governo de coalizão para poder levar adiante sua agenda.

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