São Paulo (AE) – Nem uma voz solitária, nem uma visão mais ousada: 100% do mercado financeiro acredita que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidirá pela manutenção da taxa básica de juros (Selic) na sua próxima reunião, na quarta-feira. Esta avaliação tem base na pesquisa da Agência Estado, feita com 52 analistas, que revelou que todos os profissionais esperam estabilidade da taxa básica de juros, em 19,75% ao ano.

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A aposta é fundamentada pelos economistas nos mais variados motivos. O ciclo de aperto monetário, que teve início em setembro do ano passado, terminou há pouco tempo. A inflação deu sinais positivos, mas é preciso avaliar se o movimento é pontual ou uma tendência. Além disso, os núcleos ainda registram níveis considerados muito altos, mostrando-se incompatíveis com a meta de inflação deste ano, de 5,1%, com teto de 7%. O IPCA, índice oficial da meta de inflação, no acumulado em 12 meses até junho já é de 7,27%. O seu núcleo, em junho ficou em 0,50% e o acumulado de maio de 2004 a junho deste ano é de 7,5%.

Outro argumento levantado são os dados sobre atividade, que ainda apresentam direções diferentes: uns mostram desaceleração da economia, outros revelam avanço. Um dos motivos mais citados, porém, é que os diretores do Banco Central (BC) já deram a entender, na ata da reunião de junho, que percorreriam o caminho de manter a taxa de juros no atual patamar por um longo período.

Cilada – Esse ponto é justificado, conforme dizem alguns analistas, pela "cilada" que a própria autoridade criou para si ao mencionar um período maior de estabilidade da Selic. Agora, segundo essa avaliação, o BC terá de manter os juros. Pelo menos até que outra nota mude o sinal. Por esse motivo, a ata da próxima reunião será um documento ansiosamente aguardado, para direcionar o mercado em relação aos próximos passos do BC.

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O economista-chefe da Ático Asset Management, Arthur Carvalho, resumiu a unanimidade. "Foi a projeção mais fácil de todas: a atividade não está muito acelerada e a inflação cedeu, mas pode ter sido pontual." O economista-sênior do WestLB do Brasil, Adauto Lima, credita a união do mercado à comunicação da autoridade monetária com os agentes financeiros. "Todo mundo está entendendo o que o BC vai fazer."

"O BC induziu isso (a estabilidade dos juros) na última ata, mas avalio que o cenário melhorou ante o mês passado, principalmente em relação à inflação contemporânea e às expectativas", salientou o economista-chefe do Banco BBM, Tomás Brizola. "É o consenso do mercado. De fato, houve melhora importante nas perspectivas de inflação e nas expectativas para o IPCA de 2005", comentou o economista Luís Fernando Cezário, do HSBC.

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O economista do Banif Primus Eduardo Galasini lembrou que, apesar de a inflação estar em declínio, os núcleos ainda rodam altos. "Por isso, ainda é cedo para baixar a taxa." Opinião semelhante tem o economista do ABN Amro Bank Jankiel Santos. "Os índices cheios estão mostrando melhora, mas o cenário inflacionário como um todo ainda depende da convergência do núcleo para a meta de inflação", disse ele, acrescentando que qualquer movimento do câmbio a partir de agora só deverá pressionar a inflação.