Viena (Áustria) ? Em clima "positivo" e "descontraído", afastando "mal entendidos", está reaberto o diálogo com a Bolívia sobre as conseqüências para o Brasil da nacionalização do gás natural do país vizinho. Foi o que afirmaram hoje (13) pela manhã o presidente boliviano Evo Morales e o chanceler brasileiro Celso Amorim. A solicitação do Brasil de que fossem considerados os documentos que vem sendo assinados sobre o tema e o trabalho desenvolvido pelos técnicos dos dois países, em comissão bilateral, também foi atendida.

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Morales e Amorim falaram rapidamente à imprensa logo após o café da manhã que o boliviano manteve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no saguão do hotel em que o brasileiro está hospedado, em Viena. O boliviano reafirmou que tem "afinidades" com o presidente Lula e voltou a atribuir à imprensa a responsabilidade pelos mal-entendidos em torno de suas declarações de quinta-feira: "Estamos sendo vítimas de alguns meios de comunicação que buscam confrontar-nos. Tentam enfrentar-nos, mas não vão conseguir, porque respondemos a povos que historicamente lutaram para libertar-se, para melhorar sua situação econômica."

"Como países vizinhos, somos países aliados", disse ele. "Dentro desse marco, as negociações seguirão avançando. (…) Somos grandes aliados como países, como presidentes, como governos, e dentro desse marco jamais vão poder nos fazer enfrentar com o companheiro Chavez."

Morales, como havia pedido ontem pela manhã o ministro Amorim, transferiu aos técnicos dos dois países a responsabilidade pelas negociações: "Há uma comissão de ministros de Hidrocarbonetos". "Isso oportunamente se vai informar aos presidentes. Temos muito interesse de aumentar os volumes de exportação para o brasil e outros países, como também é importante esse tema do preço, mas isso está nas mãos da comissão técnica", disse em resposta a questionamentos dos jornalistas a respeito de eventuais conversas com Lula sobre questões como a renegociação de preços e volume de gás exportado para o Brasil.

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Ele lembrou que o princípio que norteia a negociação sobre preços é a racionalidade. "Isso depende da comissão econômica, como dissemos na declaração, que os preços devem ser tomados em conta racionalmente, que beneficiem ao Brasil, que beneficiem a Bolívia. Isso oportunamente a comissão dirá."

Enquanto ontem, Amorim não descartava a retirada do embaixador brasileiro de La Paz, em caso de complicações nas negociações, hoje falou-se em troca de visitas. "Temos muito interesse, inclusive, de que o presidente do Brasil nos visite, mas há um acordo. Logo estará o chanceler na Bolivia, e também visitaremos o Brasil".

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Para o ministro, a reunião ajuda a recriar o clima de confiança entre os dois países. Questionado sobre eventuais detalhamentos das negociações que pudessem ter surgido na conversa entre os dois presidentes, Amorim também transferiu a responsabilidade aos técnicos: "Não falamos em detalhes, mas há uma comissão". "Os termos da comissão são o que prevalece. Ele [Morales] acabou de repetir isso", disse ainda. "Não se usou a palavra sem unilateralismo mas digamos, ficou implícito, será uma cooperação e um diálogo com base nos documentos assinados, e isso que nós queremos e e isso que deverá ser feito."

"Foi uma iniciativa de recriar o diálogo, de retomar o diálogo, de evitar mal entendidos", acrescentou. "O importante é manter o diálogo, a negociação. E nesse espírito que nós vamos defender o interesse da Petrobras. Nós respeitamos os interesses da Bolivia, mas as coisas todas tem que ser resolvidas com diálogo, sem ameaças."

Os jornalistas insistiram em chamar atenção sobre os contrastes entre as declarações de Morales desde anteontem. "Vamos, digamos, virar as páginas dos mal entendidos", disse Amorim. "Eu prefiro ficar com as últimas declarações porque elas foram dadas agora diretamente ao presidente Lula."