O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está acelerando as negociações com o PMDB e retomou a distribuição de cargos para o partido, com o objetivo de formar uma coalizão para um eventual segundo mandato. Na tarde de segunda-feira, Lula receberá de 16 a 20 presidentes regionais da legenda, além do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), do senador José Sarney (AP) e de outros parlamentares. Eles vão anunciar a formação do Movimento Pró-Lula, de apoio oficial à reeleição
O Palácio da Alvorada foi o local escolhido para abrigar o encontro porque é a residência do presidente, o que se ajusta à Lei Eleitoral. A legislação proíbe reunião política em prédios públicos em tempos de campanha. A assessoria da Presidência chegou a planejar o encontro para a Granja do Torto, mas desistiu, para evitar problemas com a Justiça e inevitáveis ações dos partidos de oposição
Na reunião, Lula vai anunciar que, se reeleito, convidará o PMDB a fazer parte de uma coalizão para a governabilidade. E prometerá não repetir a fórmula usada no seu primeiro governo – batizada de "horizontalidade", segundo a qual o ministro era de um partido e o secretário-executivo de outro, de forma que ambos se vigiavam e a produtividade caía
Essa prática foi adotada principalmente nos ministérios entregues aos partidos aliados, como Transportes e Comunicações, por pressão do PT
"Quando cada um rema para um lado, a tendência é o barco não ir para lugar nenhum", comparou o líder do governo no Senado, o peemedebista Romero Jucá (RR). Integrante do grupo que apóia o governo de Lula, Jucá está muito animado com a possibilidade da coalizão a partir do ano que vem
Ontem, para alegrá-lo ainda mais, o Diário Oficial da União publicou a nomeação do novo presidente dos Correios, Carlos Custódio – ligado ao líder do governo no Senado, Romero Jucá – e três diretores da estatal, apadrinhados por Calheiros e Sarney. As indicações ocorrem um ano após a estatal ter sido envolvida em denúncias de corrupção, que levaram à descoberta do esquema do mensalão
Outro parlamentar que está contente com a possível participação do PMDB em mais quatro anos de governo Lula é Sarney. "A princípio devemos ter o encontro na segunda-feira que vem, anunciar que vamos votar no presidente Lula e pedir votos para ele", afirmou. "É possível até que surja um documento oficial de apoio à reeleição depois do encontro e de compromisso do PMDB com a campanha", adiantou
Velha Queixa – Sarney acha que até o ano que vem o PMDB estará unido para seguir com Lula no prometido governo de coalizão. "Essa história só tem sentido com o partido unido. Do jeito que é hoje – em que uma ala é contrária ao governo – não dá para ficar", alfinetou Sarney, disparando uma crítica à ala que não quer saber de conversa com o PT
Sarney lembrou que são poucos os Estados em que o PMDB não estará ao lado do PT nas eleições de outubro. Citou como exemplos Santa Catarina e o Distrito Federal. Disse que no Rio Grande do Sul o governador Germano Rigotto ficará neutro e, no Paraná, Roberto Requião votará em Lula. "Em São Paulo também não há possibilidade de Orestes Quércia votar em Alckmin. Ficará com Lula.
O fim da "horizontalidade" dos ministérios é velha reivindicação do PMDB. Quando Jucá assumiu o Ministério da Previdência, conseguiu nomear os secretários-executivos e os presidentes da Dataprev e do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), mas ficou com interesses pendentes. "No próximo governo, com o ministério entregue inteiramente ao partido, os dirigentes terão um compromisso com o presidente de só indicar pessoas sérias, que não darão problemas", disse Jucá