Apologia duvidosa

Não há como evitar o registro de comentário sobre a carta enviada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), reunida em assembléia geral em Itaici, no interior do Estado de São Paulo. O texto de 70 linhas foi lido por d. Geraldo Majella Agnelo, presidente da entidade, na abertura dos trabalhos na última terça-feira.

Lula, ligado à igreja, como grande parte da população, por laços muito tênues, não sendo portanto um católico ortodoxo do ponto de vista das doutrinas da Santa Sé, mas praticante circunstancial dos ritos romanos, aproveitou o momento da reunião anual dos bispos para sensibilizá-los quanto a seu interesse no aprofundamento das investigações sobre corrupção no governo, no Congresso Nacional e nos partidos da base aliada.

A certa altura, Lula confirma a convicção de que todos os erros e desvios devem ser apurados, ?doa a quem doer?. Na verdade, uma expectativa bastante arraigada no sentimento do povo, mais de uma vez frustrado no desejo de ver na cadeia, expiando os seus crimes, os facínoras travestidos de homens públicos.

Todos sabem da divergência de idéias mantida pelo cardeal Eusébio Scheid, arcebispo do Rio de Janeiro, em relação ao presidente Lula, revelada em Roma durante as exéquias de João Paulo II, em abril. ?Pura hipocrisia?, foi o comentário que a imprensa ouviu do líder de uma das arquidioceses mais importantes da América Latina.

Para o bom entendedor, toda a apologia de Lula em torno da cruzada contra a corrupção e a crença nos efeitos depurativos da crise, d. Eusébio ainda está entre os que não mudaram a maneira de interpretar as reais intenções por trás dos atos do presidente.

Também foram duras as palavras de d. Odilo Pedro Scherer, secretário-geral da CNBB, para quem ?o presidente vai enganar a todos aqui, pois ninguém sabe o que está acontecendo?.

Ao lado de instituições com presença marcante na vida nacional, como a OAB, também a corporação dos bispos está preocupada com o abalo das instituições e com o agravamento esperado da crise. Até o final do encontro, a CNBB comprometeu-se a expedir sua palavra sobre a situação. A nação católica aguarda de seus pastores uma reflexão profunda, contudo serena e carregada de apelos à harmonia.

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