Nos recentes e contínuos acontecimentos que tornaram uma balbúrdia o sistema de transporte aéreo no Brasil, Curitiba foi vítima e agora aparece como ré. Por mais de duas horas, o sistema de comunicações do Aeroporto Afonso Pena (São José dos Pinhais/Curitiba) não funcionou e, como conseqüência, vôos foram atrasados ou cancelados na capital paranaense, em São Paulo e em Porto Alegre. Tais percalços provocam uma reação em cadeia, maior nas cidades de destino ou conexão imediata, mas também com reflexos em outros aeroportos, pois, bem ou mal, o sistema de transportes aéreos é integrado. Curitiba já havia aparecido no noticiário, no ferver da crise, quando passageiros invadiram a pista do aeroporto, num primeiro protesto efetivo que deu a dimensão da revolta dos usuários.
As autoridades do setor, militares e civis, têm feito sucessivas reuniões buscando uma solução para a crise que, ao contrário do que anunciam a cada final de encontro, não está no fim. Regulariza-se o tráfego aéreo numa região ou em todo o País por algumas horas ou mesmo dias e um fato novo ou a repetição de um problema já antes verificado acontece. Tudo começou com a queda de um avião da Gol, com o maior número de vítimas já verificado num desastre aéreo no Brasil. Procurou-se, desde logo, culpados. Seria o jato executivo que fazia sua viagem inaugural para os Estados Unidos e chocou-se com o Boeing de passageiros, em plena Amazônia? Processos correm no Brasil e nos Estados Unidos contra os tripulantes do referido avião, que teria desobedecido normas e mantido rota errada.
Mas acontecimentos revelaram que os controladores de vôo, civis e militares, em número insuficiente, mal-pagos, há muito vinham advertindo sobre as possibilidades de uma crise no sistema, que reclamava aumento de pessoal e aumentos para o pessoal. Um controlador de vôo, por suas imensas responsabilidades, deve ter limites seguros em seu trabalho e ganhar o suficiente para não se estafar num segundo emprego. É preciso toda a sua atenção e habilidade para conduzir os aviões dentro de rotas aéreas seguras.
Evidentemente que os controladores de serviço durante o acidente ficaram traumatizados. Não obstante, a crise que se seguiu teve um aspecto de protesto evidente. Eles foram forçados a agir, ou melhor, omitir-se depois do desastre, para mostrar a gravidade do problema e não ter de carregar o peso da responsabilidade de tantas mortes causadas por incúria das autoridades, que, anos antes, deveriam estar preparando melhor o corpo de controladores de vôo, aumentando o seu número ao nível necessário, habilitando-os convenientemente e pagando-lhes salários condignos. E atualizando os equipamentos. Explicações facilmente compreensíveis que demonstram a existência de uma situação explosiva.
Acontece que os problemas, sejam de comunicações, sejam de falhas nos sistemas computadorizados, o último acontecido na semana passada em Curitiba, se repetem. E a mais ou menos a cada semana são bisados. O Ministério da Defesa, que seria a autoridade máxima a tratar do assunto, reunindo os diversos órgãos e responsáveis, perdeu toda a sua autoridade, retomada felizmente pelos chefes das Forças Armadas. O presidente Lula fez mais de uma reunião para ser informado. Solução que é bom não saiu do Planalto.
Tudo isso nos faz desconfiar que haja mais coisas nestes céus que não são de brigadeiro do que sonha a nossa vã filosofia.