A família da advogada Valéria Alves Marmit, de 37 anos, já havia perdido a esperança de vê-la viva quando um corpo foi encontrado e não identificado na segunda-feira. Naquele momento, o ex-marido, Wagner Marmit, de 37 anos, com quem foi casada por dez anos e de quem se separou há dois, decidiu contar aos filhos do casal, os gêmeos Guilherme e Edgard, de 11 anos, que a mãe não voltaria mais. ?Foi terrível. Desde então, eles não param de chorar?, disse ontem (16) o tio das crianças, Wolfgan Marmit. À noite no Instituto Médico-Legal, Wagner confirmou o dilema que viveu com os filhos. Valéria será enterrada nesta quarta-feira (17) em Carapicuíba, na Grande São Paulo, onde morava. Não haverá velório.

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?Uma mulher esforçada, determinada, que levava serviço para casa dedicada aos filhos?, assim Wagner descreveu Valéria. Alivio é o que diz ter sentido ontem. ?Porque amanhã (hoje) ela (Valéria) vai estar sepultada, e a agonia toda vai ter terminado?, disse o ex-marido.

Wolfgan ficou com os sobrinhos em sua casa, desde o sábado, quando os parentes se deram conta do desaparecimento de Valéria, pois Wagner, que soube do acidente pelo noticiário, decidiu vir a São Paulo para acompanhar o resgate. Os meninos moravam com a mãe, mas estavam de férias na casa do pai havia uma semana.

Sob a guarda do tio, Guilherme e Edgard foram mantidos longe da TV durante o fim de semana. ?Procurávamos distraí-los a todo momento, com brincadeiras e videogame, para que não ouvissem nada sobre o acidente?, disse Wolfman. ?Pensavam que o pai tinha voltado a trabalhar e, como estão de férias, não estranharam passar uns dias na casa dos primos?.

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Os avós paternos, Conrad, de 69 anos, e Neide, de 65, chegaram ontem de São Vicente, onde moram, para ficar com os netos. ?A pior parte ainda vai chegar, que é enfrentar o enterro da mãe e, depois, a falta que ela certamente fará na vida deles?, disse o tio.

Juliana, de 18 anos, filha mais velha de Valéria, de um relacionamento anterior, soube do acidente desde o início. Ela e os gêmeos viviam com a mãe em um apartamento na Cohab de Carapicuíba. Foi Juliana quem avisou Wagner, no sábado, de que a mãe não havia dormido em casa. Wagner logo relacionou o desaparecimento da ex-mulher com o acidente. Valéria trabalhava em um escritório de advocacia no Alto de Pinheiros e costumava pegar o trem para Carapicuíba na estação homônima da CPTM, ao lado de onde está sendo construído o metrô. Acredita-se que ela tinha pego o microônibus no Alto de Pinheiros e se preparava para descer quando aconteceu o desastre.

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Valéria era uma mulher simples e batalhadora. Perdeu os pais ainda jovem, não tinha irmãos ou outros parentes próximos e passou a se sustentar sozinha. Em 2005, conseguiu realizar um antigo sonho: formar-se em Direito. O curso foi concluído ?com sacrifício?, segundo a família, na Universidade Bandeirante de São Paulo, campus de Osasco. Valéria estava inscrita como estagiária na OAB-SP e prestaria a segunda fase do exame da Ordem no domingo. O presidente da entidade, Luiz Flávio Borges D?Urso, divulgou nota lamentando a morte ?precoce? de Valéria.

?Era uma mulher séria, equilibrada, paciente e muito responsável com relação ao trabalho e à família?, disse Wolfgan. ?Mãe carinhosa. Exemplar na educação dos filhos.

Quando conheceu Wagner, então dono de uma loja de material de construção em Carapicuíba, Valéria morava em Aricanduva, na capital, e trabalhava como vendedora em uma empresa do ramo. Mudou-se com a filha mais velha para a casa da família de Wagner no bairro Vila Nossa Senhora Aparecida. Com a separação, há dois anos, Valéria comprou o apartamento de 40 metros quadrados para morar com os três filhos na Cohab de Carapicuíba. A loja de material de construção foi fechada. Wagner comprou uma perua escolar, que garante o seu sustento e o auxílio às crianças.

Apesar de separado, o casal tinha um relacionamento amigável, era ainda muito próximo e se falava quase diariamente por causa dos filhos. O último contato de Wagner com Valéria foi pelo telefone, por volta do meio-dia de sexta-feira, três horas antes do acidente. Segundo Wagner, o Consórcio Via Amarela, responsável pela construção da Linha 4, garantiu que arcará com as despesas de transporte do corpo e enterro.