Anúncio da Força já afeta tráfico, diz secretário do Rio

Antes mesmo de a Força Nacional desembarcar nos 19 pontos demarcados para o início da operação nas divisas estaduais, o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, já vê os efeitos da decisão. Em entrevista a O Estado de S. Paulo, ele afirmou que apenas o anúncio da operação já levou ao arrefecimento da atividade das quadrilhas especializadas no tráfico de armas e drogas em toda a cadeia do crime organizado.

As informações, segundo ele, foram detectadas pela Missão Suporte, serviço de inteligência da Polícia Federal no Rio. ‘Posso dizer, como um dado de inteligência, que o simples anúncio dessas medidas já represou muita coisa lá no Paraguai e na Bolívia.

O secretário revelou que pediria ajuda das forças federais para intensificar o cerco aos criminosos mesmo que não tivesse assumido a pasta em meio a uma onda de ataques criminosos. ‘Havia um cronograma, que foi adiantado. Ela viria quando entregassem a Vila do Pan-Americano, o Maracanã e a raia de remo. Faria o trabalho de contenção’, disse.

Delegado federal, gaúcho, 49 anos, Beltrame estudou a mecânica da criminalidade no Rio durante os três anos que passou à frente da Missão Suporte. Agora quer aplicar esse conhecimento para também combater o crime nas fileiras da polícia. ‘Tem de ser feito. É emblemático, exemplar e saudável. Não é perseguição. Fazer isso é valorizar o bom policial. É a pessoa dizer assim: a minha instituição está me protegendo dos maus colegas.

‘Na Polícia Militar, isso se faz na chamada Direção de Assuntos Internos (DAI), que estava dentro da estrutura da corregedoria e fazia a máquina ficar pesada. Nós separamos. A DAI agora vai ser uma estrutura enxuta só para fazer isso. Ela detecta, faz, executa a operação e pega quem estiver fora de controle’, disse o delegado.

O gaúcho não teme resistências internas. ‘Não tenho medo porque temos projetos para os policiais. Nós queremos capacitá-los, profissionalizá-los cada vez mais’, afirmou.

Milícias

Beltrame rebateu as insinuações de que o governo aprova, mesmo que extra-oficialmente, as chamadas milícias. ‘Elas não têm respaldo de órgãos do Estado. E não podemos banalizar o assunto. Se o respaldo é por baixo do pano, é como se eu não soubesse. Se eu souber, a pessoa será combatida como em qualquer outro crime. O miliciano, que é da ativa, que é do Estado, eu posso combatê-lo fora porque ele vai ao serviço dele trabalhar’, diz Beltrame. ‘Ele não me dá o trauma de eu entrar na favela para combater. Ele pode ser da milícia lá, mas vai trabalhar, é muito mais fácil para mim.

Beltrame ressaltou ainda que não se pode apenas ‘jogar nos ombros das forças policiais a segurança pública’ e cobrou apoio da sociedade. ‘O Estado tem de entrar nestas situações com uma série de outras opções’, afirmou. ‘Tem de entrar o saneamento básico, o calçamento, a saúde, a opção de colégio, investimentos para empregos. O soldado da droga precisa ter outra opção.

Na visão do secretário, é preciso ter paciência com o trabalho da polícia. ‘Temos de ter uma atitude proativa. O que vai alavancar essa ação é a inteligência. Pelos embates entre polícia e bandidos, nos últimos dias, vocês verão que já estamos com algum efetivo policial colocado em áreas de manchas criminais. Isso é angustiante porque traz um resultado silencioso, que a mídia não vê.

Questionado sobre a legalização das drogas, Beltrame afirmou: ‘Mato essa questão de forma simples: se tu tens um filho drogado e liberas a droga, bota para vender na farmácia, então o Estado tem que oferecer meios para recuperar teu filho. Não é um problema simples. Uma coisa é liberar a droga na Suíça, outra coisa é liberar no Brasil.

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