Antiquários garantem o estilo

Certa noite, em meados dos anos 80, quando Micaela Marcovici foi a um jantar em um apartamento, uma nova fase de sua vida iria começar. ?O imóvel era amplo e charmoso. Coloquei na cabeça que um dia iria morar naquele prédio…?, lembra ela, que começou a passear sempre por perto para ver se surgia uma oportunidade. Quando apareceu, seus pais ficaram desolados, embora morassem a poucos quarteirões. ?Eles não queriam que eu fosse morar sozinha?, conta.

Os ânimos não melhoraram depois que eles viram o apartamento. ?Minha mãe começou a chorar ao reparar no papel de parede do banheiro, com enormes flores roxas… e meu pai avisou que não iria montar a casa e que a única coisa que daria era uma bênção?, revela. Mas Micaela não precisava de ajuda. Em atividade na área de relações públicas, estava prestes a abrir seu próprio negócio. E, ao contrário do que possa dar a entender, recebeu dos pais a educação para se tornar dona do próprio nariz. ?Para eles, os filhos tinham de ser capazes de se virar na vida?, confirma.

Mas a estética materna não passou despercebida. E a primeira coisa que Micaela fez no apartamento – junto com a instalação do carpete novo – foi tirar do raio de visão as flores roxas do banheiro. ?Como o imóvel era alugado, não queria fazer uma grande reforma. Mas o papel de parede não desgrudava dos azulejos; por isso, mandei cobrir as paredes com tábuas de madeira e pintá-las de branco?, detalha. Passados 20 anos, as ripas continuam firmes e o tom claro e rústico do ambiente remete ao de uma casa de praia. Ao lado da banheira, um porta-plantas de plástico transparente exibe orquídeas e antúrios que crescem com o vapor do chuveiro.

Micaela gosta de visitar Paris de tempos em tempos. Foi lá que viveu seus primeiros 20 anos, depois de sair, ainda bebê, de Bucareste com os pais, fugindo do regime comunista na Romênia. ?Quase todos os amigos da família migraram para o Brasil, mas, como meus familiares eram fluentes em francês, acabaram seguindo outro rumo?, conta. ?Com o tempo, decidiram ficar perto de sua comunidade vindo para São Paulo.?

Família vende tudo

Na hora de montar o apartamento (que acabou adquirindo pouco depois), o contato de Micaela com a cultura francesa emergiu. ?Praticamente nada do que tenho em casa foi adquirido em lojas de decoração?, admite. ?Sempre gostei dos anúncios que diziam, ?… família estrangeira de mudança vende móveis?… As peças eram de qualidade e bem em conta.? Foi desse modo que Micaela encontrou, há quase duas décadas, um dos sofás (de três lugares) do living, reformado há anos (na Equanon Tapeçaria). Outro, de veludo, na área social, veio da casa dos pais. ?Era vermelho, mas hoje tem cor quase tijolo?, reconhece.

Antiquários também são fonte de gratificantes achados para Micaela. A mesa de jantar, que une madeira e design moderno foi um golpe de sorte. ?Ficava namorando essa peça em uma loja que já não existe mais, a British Home. A uma certa altura, os empregados já me conheciam e, quando foram renovar a linha de móveis, acabaram me vendendo a mesa por uma pechincha?, exulta. Micaela acredita que dá para descobrir, em decoração, pepitas de ouro onde for. ?Meu negócio é fuçar. No começo fazia isso porque tinha pouco dinheiro, depois percebi que é divertido descobrir boas peças em lugares inesperados?, admite.

A mesinha de madeira entalhada, que fica na entrada do apartamento, é exemplo. ?Estava em uma loja de molduras com meu pai, quando ele perguntou, ?gostou de alguma coisa??, ela recorda. ?Sim, respondi, e apontei para a mesa cheia de papéis.. O dono topou a venda na hora?, recorda. (AE)

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