Desde o lançamento do livro Direito à memória e à verdade, organizado e publicado sob os auspícios da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, azedaram as relações dos comandantes militares com determinados segmentos da administração federal, de modo flagrante com o Ministério da Defesa e seu titular, Nelson Jobim.
O livro em foco registra a história pessoal de militantes políticos de vários movimentos que lutaram contra a ditadura instaurada em abril de 1964, muitos deles mortos em conflito direto com os militares. Alguns jamais tiveram os restos mortais localizados e entregues às famílias para um sepultamento digno.
Esse sentimento de antagonismo foi reavivado pelo lançamento do citado livro, mesmo sem a adição de quaisquer novidades a um acervo sobejamente conhecido desde a publicação do Brasil nunca mais, trabalho exaustivo realizado a salvo da ação implacável das instituições repressoras, à época, coordenado pelo cardeal de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, e pelo pastor presbiteriano Jaime Wright.
As primeiras manifestações de ressentimento contra a atitude do governo Lula, com relação ao livro, partiram do Clube Militar ou de oficiais superiores na reserva, para logo chegar à esfera do alto comando das três forças.
O desdobramento mais recente foi citado ontem pelo jornal O Estado de S. Paulo, dando conta da ameaça proferida pelo ministro Nelson Jobim de demitir o comandante do Exército, general Enzo Peri, e demais generais ao alto comando, caso insistissem na realização de pretendido ato de contestação à autoridade ministerial.
A demonstração de auto-suficiência do ministro Nelson Jobim, segundo o jornal, teria sido levada por um assessor ao quartel-general do Exército, em Brasília, na manhã da última sexta-feira. O fato curioso é que, no clímax dos chamados anos de chumbo, o local se notabilizava pela alcunha de Forte Apache, tal a dimensão do intervencionismo do estamento militar na tessitura político-institucional do País.
Enfim, prevaleceu o bom senso e a nota do Exército se reduziu à insipidez formal tolerada pela leitura prévia de Jobim e aprovada pelo presidente da República, por telefone. Na viagem ao Haiti, o ministro já voltara a envergar a farda de campanha dos generais de quatro estrelas. Ao que parece, uma vestimenta bastante confortável.