A Anistia Internacional apontou em seu relatório anual divulgado hoje que o "descaso de longa data" dos governos estaduais e federal para com o sistemas prisional, judiciário e policial forçaram as autoridades, carentes de preparo e recursos, a enfrentar de maneira inapropriada níveis extremos de violência criminal. "Isso contribuiu para as violações sistemáticas dos direitos humanos por parte destes agentes responsáveis pelo cumprimento da lei, as quais incluíam o uso excessivo de força, execuções extrajudiciais, tortura e maus-tratos, bem como corrupção generalizada", disse o texto

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A organização criticou a postura de autoridades que decidiram definir os problemas de segurança pública como uma guerra, medida que "resultou na adoção cada vez maior de táticas militares pelas policiais estaduais". "Muito mais de mil pessoas foram mortas por policiais. Essas mortes raramente são investigadas de modo adequado, pois são registradas como ´resistência seguida de morte`, o que, em geral, faz com que se descarte previamente qualquer investigação aprofundada", citou o relatório

A organização ressaltou que também os policiais e agentes prisionais se tornaram alvo de ataques, numa referência específica aos ataques liderados por membros do Primeiro Comando da Capital (PCC). "Entre os dias 12 e 20 de maio, integrantes do PCC, uma organização criminosa que surgiu no sistema carcerário do estado, saíram às ruas numa impressionante demonstração de violência organizada", destacou o texto, lembrando a quantidade de mortes, delegacias, bancos, estações de metrô e ônibus atacados durante os ataques.

Segundo a Anistia Internacional, as informações detalhadas sobre as pessoas mortas em bairros da periferia de São Paulo – 117 em apenas um dia – somente foram concedidas após ameaça de abertura de um processo judicial pelo Ministério Público. "A reação do governo federal e estadual à violência foi amplamente criticada pelos meios de comunicação, especialistas em segurança pública, policiais e militantes dos direitos humanos, por tentarem tirar vantagem política da situação antes das eleições, em vez de buscar uma solução para a violência", conclui o relatório.

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