A produtividade dos trabalhadores brasileiros caiu muito nos últimos 25 anos. Quem atesta essa triste realidade é um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Como a constatação é de uma marcha à ré de um quarto de século, não há como apontar este ou aquele governo como responsável, mas todos. Há algo de errado na máquina produtiva brasileira. Não se pode dizer que o trabalhador brasileiro tem uma jornada de trabalho pequena, menor do que a dos que laboram em países mais adiantados, pois muitas vezes é o contrário. Lá eles geralmente trabalham menos e produzem mais. Aqui, há quem trabalhe muito acima da jornada oficial e, mesmo assim, pouco produz e recebe salário infinitamente menor.
Em 1980, um trabalhador brasileiro produzia em valor agregado o equivalente a US$ 15,1 mil por ano para a economia do País. Em 2005, vinte e cinco anos depois, esse valor foi reduzido para US$ 14,7 mil. Neste ano, segundo a OIT, a nossa produtividade ficou abaixo da verificada no Chile (US$ 30,7 mil), Venezuela (US$ 26,1 mil), Uruguai (US$ 25,4 mil) e Argentina (US$ 24,7 mil). A distância entre a produtividade no Brasil e nos países desenvolvidos aumentou. Em 1980, era de 19% da americana. Em 2005, essa relação despencou para ínfimos 5%. A economia norte-americana continua liderando o ranking das mais produtivas. O valor anual agregado de um trabalhador americano foi de US$ 63,9 mil em 2006. Em segundo lugar vem a Irlanda, com US$ 55,9 mil e em terceiro, Luxemburgo, com US$ 55,6 mil. E nós ficamos lá embaixo.
Os estudiosos dão como causa principal do sucesso norte-americano as longas jornadas trabalhadas naquele país. Nos EUA trabalha-se muito.
Mas aqui, no Brasil, embora se diga o contrário, não se trabalha pouco. Trabalha-se bastante, em certos setores até demais, mas produz-se pouco e ganha-se menos ainda. O tempo que o trabalhador dedica às suas atividades laborais não é, evidentemente, a única explicação para a produtividade alcançada, tão distinta entre outros países e o Brasil. Importante é uma combinação eficiente de capital, trabalho e tecnologia. É preciso, para uma boa produtividade, a combinação eficiente daqueles três elementos. Nisso, o Brasil está muito atrasado. O capital está sempre amarrado a uma burocracia irritante, a uma carga tributária insuportável e, para formar-se, depende mais do mercado financeiro que do de capitais. No mais, ainda se acredita no que nem nos países comunistas já não é mais dogma, como seja, a necessidade de privilegiar o governo como supridor de capitais, ou mesmo operando como capitalista. Uma economia onde é tão expressivo o capital estatal e o controle do Estado sobre capitais privados transforma muitos trabalhadores em funcionários públicos, com todos os vícios próprios dessa função. O resultado é uma baixa produtividade. Quanto ao trabalho, aqui ele é considerado um fator menor. Por isso mesmo, tem a mais baixa remuneração. É preciso combinar também tecnologia e é sabido que pouco se investe nesse campo. Há setores em que estamos tão atrasados, produzindo como se não estivéssemos muito distantes da idade da pedra.
Nos países em desenvolvimento, destaca a OIT, a falta de investimentos em formação e capacitação de pessoal, equipamentos e tecnologia acaba levando a uma ?subutilização do potencial da mão-de-obra?. ?Centenas de milhões de mulheres e homens trabalham duro por longas horas, mas sem as condições que permitiriam a eles e suas famílias superar a pobreza ou o risco de tornar-se cada vez mais pobres?, explicou Juan Somavia, diretor da OIT. Tal fato nos leva a pensar que é hora de dar qualidade aos nossos já parcos investimentos. Em cada real aplicado é preciso calcular a equação custo-benefício, pois os números demonstram que estamos sacrificando os nossos trabalhadores para colher resultados pífios. Estamos crescendo à ré.