O diretor-geral da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, informou que começou a ser montado no início da noite de ontem um plano para embarcar, emergencialmente, passageiros da Varig espalhados por vários países do mundo. Por uma decisão de juízes estaduais dos Estados Unidos, a companhia brasileira em crise está impedida de movimentar, nas próximas 72 horas, 18 aeronaves adquiridas por meio de leasing
Com isso, cerca de 70% dos aviões da empresa em condições de voar ficarão no solo, e a maioria dos vôos internacionais da companhia serão cancelados. A TAM e a Gol deverão fazer o transporte da maior parte desses passageiros. O prazo é o mesmo que o consórcio NV, que representa o TGV (Trabalhadores do Grupo Varig), tem para depositar em juízo US$ 75 milhões como sinal da proposta de compra da Varig
O anúncio de Zuanazzi foi feito ao final da primeira reunião do "gabinete de crise" montado pelo governo federal para monitorar o desenlace do drama da Varig. "Precisamos fazer um plano de emergência para atender os usuários e minimizar os problemas dessas pessoas que precisam se deslocar", afirmou Zuanazzi
Segundo o diretor, a direção da Varig comunicou o comitê do governo, no início da noite, sobre o impedimento de usar os aviões. A Anac, por telefone, pediu então autorização do juiz Luiz Roberto Ayoub, da 8ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, responsável pela condução do processo de recuperação judicial da companhia aérea, para elaborar um plano para atender os passageiros
Zuanazzi não soube dizer quantos passageiros terão que ser deslocados nos próximos três dias e nem exatamente onde eles estão. "Nossas equipes técnicas já estão na sede da Varig no Rio para fazer esse levantamento", afirmou. Ele citou, no entanto, como alguns exemplos de cidades no exterior que já deixaram de ser atendidas por vôos da Varig ontem Montevidéu, Assunção, Nova York, Los Angeles e Miami. Os vôos para Frankfurt serão mantidos
Segundo Zuanazzi, o trabalho está sendo feito em parceria com a direção da Varig. "Não há nenhuma resistência da diretoria da Varig", disse. O diretor afirmou que não dispunha de dados sobre a situação no mercado interno, mas que esse era mais "fácil" de ser atendido. O diretor da agência informou que a principal preocupação é em relação às rotas internacionais
A Gol e TAM vão ser responsáveis pelo transporte dos passageiros da Varig, seja com os assentos disponíveis em seus próprios vôos internacionais, seja nas parcerias que mantêm com companhias estrangeiras. "A Varig também acionou as suas próprias parcerias com empresas internacionais", completou Zuanazzi. Outra alternativa que poderá ser usada, disse ele, é a realização de fretamento de aviões das companhias brasileiras
Os passageiros que não conseguirem embarcar, disse o diretor, em último caso poderão ainda ter suas hospedagens em hotéis custeadas pela Varig. "Nessa hora, um pouquinho de paciência e uma dose de sentimento são necessárias porque se trata de uma decisão judicial com data e hora para terminar e da qual a Varig também certamente deverá recorrer", afirmou o diretor
Apesar de a discussão sobre o plano de emergência ter começado apenas no início da noite, a diretoria da Anac passou todo o dia ontem reunida com técnicos e presidentes das outras companhias aéreas brasileiras. Zuanazzi informou que durante o dia foram atualizados dados e informações das empresas para o chamado "plano de contingência" – que trata da redistribuição das rotas operadas pela Varig no caso da empresa paralisar de vez suas atividades
Novamente, porém, o diretor se negou a detalhar esse plano, que a agência reguladora só pretende anunciar em caso de falência da Varig. "Já disse e volto a repetir que seria uma irresponsabilidade da agência não ter um plano de contingência, seria como um bombeiro que não está preparado para um incêndio", comparou Zuanazzi