O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, deixou claro ao governo Evo Morales que o Brasil ainda não engoliu a maneira como foi anunciado o decreto de nacionalização do gás e petróleo na Bolívia – em especial, a ocupação militar das refinarias da Petrobras. Ao lado do chanceler boliviano, David Choquehuanca, Amorim também esclareceu que não interessa a Brasília uma negociação entre governos sobre questões técnicas e empresariais como o reajuste do gás. Mas acentuou, nas reuniões que manteve com Choquehuanca e com o próprio Evo Morales, que o Brasil não aceitará a saída da Petrobras sem o pagamento da devida indenização
"O presidente Evo Morales sabe o que pensamos e a sensibilidade desse assunto para o Brasil", respondeu Amorim, ao ser indagado por uma jornalista boliviana se o País havia superado o mal-estar causado pela ocupação militar das refinarias e das plantas de exploração
Em todo o episódio da nacionalização do setor de petróleo e derivados pela Bolívia, o que mais irritou o governo brasileiro foi a forma pela qual ela foi feita. Primeiro, por ter sido realizada um mês antes do prazo definido e sem negociação com as companhias investidoras no setor de gás do país. Segundo, por causa da ocupação militar, posteriormente transformada na nomeação de interventores das Forças Armadas
Ontem, no seu esforço de retomar uma relação bilateral mais harmoniosa, baseada no diálogo e na confiança mútua, Amorim enfatizou que não será o governo brasileiro quem tomará as rédeas das negociações com a Bolívia sobre os preços do gás e o destino da Petrobrás no país
O governo brasileiro insiste que o tema é empresarial e deve seguir padrões sobre a viabilidade dos negócios da Petrobras no novo cenário criado pela nacionalização do setor do gás. Hoje, o governo argentino poderá vir a aceitar, em La Paz, uma proposta de elevação dos preços a US$ 5,50 por milhão de metros cúbicos de BTUs (unidade térmica britânica, medida internacional do combustível) ao dia. Amorim, entretanto, escapou de qualquer indicação sobre qual seria o reajuste possivelmente aceito pela Petrobrás, ciente de que o preço final terá de ser viável para os consumidores brasileiros e outras alternativas de abastecimento têm sido buscadas pela companhia estatal
"Não sou técnico, não tenho conhecimento das matrizes de preços e de custos. Não sei, nem quero saber desses assuntos", disse o chanceler brasileiro. "Do meu ponto de vista, o importante é o enquadramento político. O presidente Evo Morales e o chanceler Choquehuanca me disseram hoje (ontem) que os trabalhos dos grupos técnicos devem ser acelerados.
