O jogo contra a Rússia, na quarta-feira, não acrescentou nada nas observações finais do técnico Carlos Alberto Parreira para a conclusão da lista dos convocados da Copa do Mundo, na Alemanha. Jogar sob um frio de 33 graus negativos, e num campo que misturava grama com barro, não estava nos planos da seleção. Mesmo assim, ele gostou de ver o grupo reunido pela primeira vez em 2006 – desde novembro do ano passado isso não acontecia.
Os critérios do treinador para formar a equipe muitas vezes não dependem da qualidade ou talento dos atletas. "Muito importante para a harmonia de um grupo é saber como cada um reage quando exposto a situações às vezes penosas, como, por exemplo, ficar longe da família por alguns dias, tendo de se adaptar aos horários e à dinâmica da seleção".
Em cada convocação, desde que aceitou o convite da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em janeiro de 2003, para assumir o time pentacampeão, Parreira se dedica às instruções e também a um aspecto que tem o peso de decidir vagas na relação de escolhidos para a disputa de uma Copa do Mundo. "Pode passar despercebido para o público. Mas quando o jogador está na seleção, não vai ser avaliado apenas pelo que produz no jogo".
Parreira, o coordenador Zagallo e o supervisor Américo Faria estão sempre atentos à rotina do grupo e não abrem mão de disciplina e dedicação. Não que isso signifique uma postura rígida deles no tratamento diário com os jogadores. O ambiente na seleção tem sido, nos últimos anos, de descontração e responsabilidade. Quem não entende essa engrenagem, acaba não vestindo mais a camisa amarela.
Um exemplo de quem não soube se integrar com o grupo é o meia Felipe. Na Copa América de 2004, em Arequipa, no Peru, ele não se conformava com a condição de reserva e pouco se esforçava nos treinos. Pior ainda era seu comportamento nos momentos de folga. Ficava isolado nos salões do hotel e evitava os próprios colegas. Ninguém da comissão técnica falou sobre esse caso abertamente.
Nos bastidores da seleção é notório, no entanto, que Felipe deixou escapar naquela Copa América a oportunidade de continuar servindo à equipe. "Para a definição de um grupo de 23 jogadores que vão ficar quase dois meses fora de casa, pensando somente num objetivo, é preciso que haja total integração. Se uma peça falhar, pode comprometer tudo", comentou Zagallo.
Na seleção de Parreira, até os craques consagrados, como os dois Ronaldos e Roberto Carlos, sabem disso. Em viagens da seleção, como a desta semana para Moscou, existe um certo relaxamento da comissão técnica com relação à atitude dos jogadores. "A seleção hoje é formada por profissionais respeitados no mundo todo. Não é preciso elaborar cartilha para dizer o que eles devem fazer", afirmou Parreira.
Essas análises que não dizem respeito à atuação do atleta numa partida podem ser o último recurso do treinador para fechar a lista. Na zaga, talvez esteja a sua única dúvida: levar três ou quatro zagueiros para o Mundial? Além de Lúcio e Juan, nomes mais do que certos entre os 23, como decidir quem vai ser o terceiro (ou o quarto) da posição na chamada final? Cris, Luisão e Roque Júnior, o mais temperamental de todos, vão saber a resposta em 15 de maio – dia do anúncio dos convocados.