Brasília (AE) – Foi definida hoje (20) a cúpula da CPI do Mensalão, que vai investigar as suspeitas de compra de votos de deputados. O presidente será o senador Amir Lando (PMDB-RO), que atuou como relator da mais célebre de todas as CPIs: a que apurou as atividades irregulares do empresário Paulo César Farias e resultou no impeachment do presidente Fernando Collor. A relatoria da CPI do Mensalão caberá ao deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), ministro da Justiça do governo do general João Figueiredo.
Tanto o presidente quanto o relator são de partidos da base aliada do governo Lula, mas são considerados pouco alinhados com o Palácio do Planalto.
Na primeira reunião, a CPI decidiu hoje pedir todos os documentos relativos à suspeita do pagamento de mesada a parlamentares para que votassem a favor de projetos de interesse do Palácio do Planalto.
A comissão mandará requerimento à CPI dos Correios, à Corregedoria da Câmara, ao Conselho de Ética da casa, à Polícia Federal e ao Ministério Público. A direção da CPI fará amanhã (21) uma reunião conjunta com a cúpula da CPI dos Correios para verificar como deverá ser feita a transferência de documentos. Por enquanto, a CPI do Mensalão fará apenas reuniões administrativas para examinar os milhares de documentos existentes em todos os cantos.
Ela investigará também se houve compra de votos no Congresso para a aprovação, em 1997, da emenda constitucional que permitiu a reeleição de cargos no Executivo. Por sugestão de seu relator, só começará a tomar o depoimento dos suspeitos depois do dia 2, quando o Congresso retomará seus trabalhos normais. "Primeiro, vamos separar tudo e fazer os extratos dos documentos relativos às nossas investigações", disse Abi-Ackel.
Como ocorreu na CPI dos Correios, na do Mensalão governo e oposição também decidiram os nomes de seus dirigentes pelo voto. Amir Lando, candidato do governo, venceu por 22 votos a 14 o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), das oposições. O vice-presidente eleito foi o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), muito próximo ao governo. Foi feita uma tentativa de acordo, mas os governistas tentaram empurrar nas oposições o nome do senador Edison Lobão (PFL-MA) para a presidência da CPI. Lobão, como se sabe, é da ala governista do PFL e a oposição não aceitou a sua indicação.
A CPI dos Correios funcionará como uma espécie de subcomissão da CPI dos Correios, admitiram hoje seus integrantes. Mas eles vêem vantagem nisso. "A CPI deverá ser menos espetacular e mais objetiva. Como já existem documentos de todos os tipos a respeito de temas como o "mensalão", a sua requisição fará com que ganhemos muito tempo", disse o líder do PSB na Câmara, Renato Casagranda (ES). "Nossa ordem de trabalho será a denúncia, o fato e o castigo", acrescentou o presidente da CPI, Amir Lando.
O castigo a que ele se refere será a cassação do mandato de quem recebeu o "mensalão", denunciado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), e que pagaria mensalidade de R$ 30 mil ou mais, por mês, a parlamentares do PL e do PP. A CPI dos Correios já investiga a suspeita de que o "mensalão" chegou também ao PT, atingindo figuras muito importantes do partido, como o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (SP) e o líder Paulo Rocha (PA).