Depois de três horas de reunião reservada com o empresário Marcos Valério Fernandes, o presidente da CPI do Mensalão, senador Amir Lando (PMDB-RO), afirmou hoje que a comissão já conseguiu comprovar a origem e o destino dos R$ 55,5 milhões do chamado valerioduto, mas descobriu também que o PT e os partidos aliados foram "alimentados" com recursos de outras fontes: as empresas estatais. Os R$ 55 milhões confirmados por Valério e pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares não incluem, por exemplo, os R$ 4 milhões que o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) confessou ter recebido do PT.
"Temos os elementos para bater a contabilidade do esquema de Marcos Valério com os documentos de movimentação bancária em poder da CPI", afirmou Amir Lando. "Cada vez mais fica claro que Marcos Valério não era o único esquema do PT", completou o senador Rodolpho Tourinho (PFL-BA), que também participou da reunião sigilosa com o publicitário, realizada em uma das salas da biblioteca do Senado. A CPI quer investigar, agora, de onde vieram os milhões que rechearam a mala de dinheiro que Jefferson diz ter recebido.
Na conversa com integrantes da CPI, o próprio Valério deixou claro que não era o único nem tampouco o principal operador do esquema. "Eu era um m…no esquema. Sou deste tamaninho", disse, ao exibir os dedos polegar e indicador, tentando traduzir a sua pequena dimensão no esquema petista. "Vocês têm de ir atrás, pois tem coisas importantes nas empresas estatais", continuou, segundo revelou um dos participantes da reunião.
Ao final do encontro, do qual participaram também o relator, deputado Ibrahim ABI-Ackel (PP-MG) e o senador Romeu Tuma (PFL-SP), concluiu-se que a primeira fase do inquérito está quase pronta. "Quanto aos R$ 55,5 milhões, temos condições de desvendar para onde e para quem foram", resumiu Amir Lando. A avaliação geral é de que a segunda fase da investigação, que terá a participação de um grupo de 13 técnicos e auditores, poderá complicar a vida do governo.
O relator da CPI disse, depois da conversa, que devem surgir mais nomes envolvidos no esquema de distribuição de dinheiro coordenado pelo publicitário Marcos Valério. A CPI está tentando ligar três nomes encontrados como sacadores – Francisco de Assis Novaes Santos, Newton Vieira Filho e Fernando César Rocha Pereira – a pessoas que podem tê-los usado para sacar dinheiro.
Apesar de Abi-Ackel classificá-los como "desconhecidos", os três foram identificados. Valério apontou Santos como um dos homens que teria recebido dinheiro em nome do publicitário Duda Mendonça. Seria um churrasqueiro profissional e informante da Polícia Civil em Belo Horizonte. Newton é economista e foi coordenador da campanha derrotada do tucano João Carlos Lisboa à prefeitura de Nova Lima (MG). Pereira também é economista, já depôs na Polícia Federal em Minas e diz ter prestado serviços à SMP&B, agência de Valério.
OS REPASSES DE VALÉRIO (R$)
PT: 30 milhoes
PL: 12,2 milhões
PP: 7,8 milhões
PTB: 3,4 milhões
PMDB: 2,1 milhões