Os Estados Unidos vão oferecer ao Brasil contrapartidas comerciais e financeiras para tentar convencer o governo a adotar o padrão norte-americano para a TV digital. "As principais vantagens são maior possibilidade de exportação e custo mais baixo", afirmou o presidente do Fórum ATSC, representante do padrão americano de TV digital, Robert Graves
Ele assegura que padrão americano poderá, a partir de junho, oferecer a possibilidade de uma TV digital funcionar em aparelhos em movimento, como uma TV dentro de um ônibus, por exemplo. A mobilidade é um dos requisitos exigidos Brasil para a escolha da tecnologia de TV digital. Foi por falta dela que os técnicos brasileiros sugeriram, na semana passada, que o padrão americano deveria ser descartado. Outros critérios exigidos pelo Brasil são a interatividade, que permitirá, por exemplo, a compra de produtos pela TV, e a possibilidade de transmitir imagens tanto em alta definição como em definição padrão, com qualidade um pouco inferior
"Estamos tentando explicar que essa impressão de que a mobilidade está funcionando em outros sistemas não é verdade. O pacote completo do ATSC é um pacote melhor", afirmou Graves, ao fazer uma apresentação do padrão americano para a imprensa. Além do padrão americano, estão no páreo as tecnologias européia e japonesa (esta última conta com a simpatia do ministro das Comunicações, Hélio Costa)
O ATSC acena com a possibilidade de o Brasil ter ganhos de economia de escala, uma vez que a parceria com os EUA permitiria que as empresas nacionais desenvolvessem aplicativos de mobilidade e interatividade. O Brasil poderia produzir também televisores para serem vendidos tanto no mercado interno quanto para outros países que já utilizam a tecnologia, como os EUA, Canadá e México. Graves acredita que a decisão do Brasil seria seguida por outros países da América do Sul, criando um mercado maior para o sistema, o que resultaria em produtos mais baratos
A previsão é de que somente nos EUA sejam vendidos 34 milhões de televisores digitais em 2007 e 152 milhões em 2009. Graves chama a atenção para o fato de que os EUA não produzem esses aparelhos. "Se o Brasil adotar o padrão japonês, é difícil enxergar a possibilidade de exportação para outros países", diz. Ele destaca ainda vantagens técnicas do ATSC, como a robustez do sinal e a capacidade de cobertura, o que dificulta a perda do sinal televisivo
Entre as contrapartidas estariam também investimentos de US$ 150 milhões em projetos de inclusão digital no Brasil. Os recursos viriam da Opic (Overseas Private Investment Corporation) – agência de fomento do governo americano. Graves mencionou também que o Eximbank dos Estados Unidos disponibilizará uma linha de crédito, com juros de 3% a 4% ao ano, para a compra de equipamentos americanos pelas emissoras de TV brasileiras
Segundo ele, a preferência das emissoras brasileiras pelo padrão japonês de TV digital vem principalmente da Rede Globo e as demais emissoras, como a Bandeirantes, a Record e o SBT, teriam se mostrado mais abertas à discussão de outros padrões. "As outras emissoras têm sido mais receptivas e ela (Globo) vai perceber que o padrão americano também permite mobilidade, portabilidade e qualidade", afirma.