Ambientalistas protestam contra simulação de acidente nuclear em Angra

Angra dos Reis (AE) – Ambientalistas interditaram nesta quinta-feira, com uma barricada de pedras, a pista sentido Rio da Rodovia BR-101 (Rio-Santos) em protesto contra o Exercício-Geral de Emergência Nuclear das usinas de Angra dos Reis, no litoral sul do Estado de São Paulo, que simula um acidente no reator da central nuclear e a suposta liberação de radiação. A manifestação, que durou duas horas e meia, atrasou o planejamento do exercício e só terminou com a chegada de um trator para retirada do material e liberação da pista. Um grupamento do Batalhão de Choque da Polícia Militar (PM) foi acionado mas o protesto terminou de forma pacífica.

Durante o exercício, que simulou o risco de liberação de radiação para o meio ambiente a partir de um acidente nuclear nas Usinas de Angra 1 e/ou Angra 2 e a decretação de situação de emergência, alguns moradores em um raio de cinco quilômetros em torno das usinas foram removidos e abrigados em escolas e no Colégio Naval. Exército, Marinha, Aeronáutica, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Eletronuclear, Prefeitura de Angra, Agência Brasileira de Inteligência (Abin), PM e PRF participaram da operação.

Os ambientalistas criticam o fato de a BR-101, uma rodovia de mão-dupla em precário estado de conservação, ser a única via de saída da cidade por terra em caso de um acidente nuclear. "O plano de emergência não conta com imprevistos, e a estrada não oferece segurança, é um risco para a população, que sequer sabe do exercício", afirmou o ambientalista Ivan Marcelo Neves, diretor da ONG Sapê (Sociedade Angrense de Proteção Ecológica, fundada em 1983), organizadora do protesto. Ele defende a duplicação da rodovia, um plano de contenção de encostas e investimentos em sinalização e manutenção das pistas.

"Fiquei surpreendido, ninguém gosta de passar por um imprevisto", admitiu o coronel da reserva Saul Zardo Filho, diretor-geral do Exercício. "Todos têm o direito de se manifestar, de pensar que o planejamento é falho, que as usinas não servem para nada, mas acredito que, se cada um for tentar obstruir um exercício que busca o bem comum, não será a melhor forma", disse ele.

Segundo o coronel, diante de um eventual deslizamento de encosta durante uma situação real de acidente nuclear a pista poderá ser liberada rapidamente sem prejuízo para a remoção de moradores. "Quem sabe podem surgir daí contribuições para melhorar o planejamento", disse ele, numa referência ao protesto. O coronel também defendeu a duplicação da via: segundo ele, essa seria uma "decorrência natural" da suposta construção da Usina Angra 3, que ainda está em debate no governo.

Técnicos da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) estavam de prontidão para medir a radioatividade e simulavam o atendimento de vítimas, com o apoio de militares, vestidos com roupas apropriadas para o contato com contaminados por radioatividade. Até as 17 h, o Ministério da Ciência e Tecnologia e a Eletronuclear não haviam divulgado um balanço do resultado das atividades.

Ronaldo Reis Costa, de 43 anos, morador de Guariba, bairro vizinho à central nuclear, participou do exercício. "Não entendo nada dessa coisa nuclear, é uma proteção a mais, acho bom o exercício porque a gente da comunidade mora do lado da bomba", disse ele, que trabalha fazendo serviços de manutenção em condomínios de Angra. "É a segunda vez que eu participo, eles dão lanche, boné, camiseta e cobertor."

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