O que é o amor? É o sentimento que transcende o ser e nos faz melhor para os outros e para nós mesmos. É aquela sensação de alegria e êxtase que traz a jovialidade e a ternura de ser criança. É a força da vida que brota em terreno árido para dar frutos. Enfim, é sentir que o sol invade o nosso coração aquecendo os nossos dias e transformando a noite em sonhos.
E esse sentimento cantado em prosa e verso é que veio modificando o comportamento da humanidade na busca da paz. Entretanto, o ser humano ainda traz embutido aquela vontade ditatorial de conceituar, dimensionar o amor, procurando fazer deste sentimento um clichê e, pior que isso, utilizá-lo para justificar o preconceito.
Vivenciamos diariamente a luta das diferenças e desigualdades ao resistirmos às mudanças. Enquanto isso, crianças que precisam ser amadas, confortadas e acolhidas ficam na fila sujeitas às intempéries do tempo a subtrair delas a chance de ter uma família, por um único motivo esta família é formada por dois homens ou duas mulheres. Esta luta da adoção por homossexuais vem de há muito tempo arraigada única e exclusivamente no tabu de que crianças sujeitas ao convívio com pessoas que detém um relacionamento homo-afetivo poderiam apresentar, de igual maneira, na idade adulta, o mesmo comportamento. Ou ainda, que estas crianças iriam se sentir rejeitadas no meio social, pela necessidade de identificar a figura paterna e materna na identidade de sexos.
Os críticos vão mais além. Ao indagarem quem daquela relação representará o homem e a mulher, como se a família constituída no homem e na mulher representasse o padrão ideal. Tudo isso é uma heresia, pois quem ama, conforta, protege e permeia o caminho de coisas positivas que levem ao pleno sucesso. A união de pessoas do mesmo sexo não difere das famílias tradicionais composta pelo homem e a mulher que irão gerar filhos, ou, quando não, a opção da adoção.
Há que prevalecer o melhor interesse da criança, pois toda criança tem direito assegurado a convivência familiar a adoção é o caminho de muitos brasileirinhos desvalidos e abandonados à própria sorte. Portanto, tem que ser olhada por inteiro, sem discriminação.
O amor que une dois seres do mesmo sexo é igual e tão completo como de duas pessoas de sexo distintos que desejam da mesma forma constituir a família na integração de crianças no lar. Não podemos mensurar o amor pelo preconceito, como forma de impedir a felicidade do próximo. Devemos permitir a higidez da norma fulcrada no amor, que nos conduza à paz social que tanto almejamos.
O Poder Judiciário está à frente do seu tempo, ao “legislar” em benefício de uma justiça que prega e respeita a dignidade da pessoa ao preservar os princípios constitucionais, e o faz, porque sabem que é o afeto que movimenta a vida. A adoção, com certeza, é edificada no afeto e se perfaz por um ato de amor, independentemente, de cor, credo, religião e sexo.
Joeci Camargo é professora da Escola da Magistratura do Paraná e Desembargadora.