O ex-ministro do Trabalho e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Edward Amadeo alertou hoje (6) para o risco de uma eventual indexação salarial chegar às esferas legislativa e judiciária. ?Se a indexação chegar à esfera legislativa (com a criação de uma lei salarial) ou judiciária, com os juízes do trabalho arbitrando a favor de indexação, o processo se disseminaria, sem ter qualquer relação com as condições econômicas das empresas. Aí teríamos o caminho mais curto para a década de 80?, disse.
Para evitar a volta da indexação salarial, disse Amadeo, o governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva deveria evitar qualquer sinal de que é favorável a mecanismos de indexação pela via legislativa ou judiciária. ?É importante que esse tema não apareça no pacto proposto pelo presidente eleito e nas câmaras setoriais?, disse Amadeo, que é sócio da consultoria Tendências.
Na avaliação do economista, a volta da indexação salarial é o maior risco para a estabilidade da moeda. Mas está condicionado a outro risco, que é a manutenção de taxas de câmbio muito elevadas ao longo dos próximos meses. ?Daí a importância dos membros da equipe de transição emitirem sinais, transformados em atos no início do governo, que reduzam os prêmios de risco e o câmbio. Esse é um fator-chave para o sucesso do novo governo e o futuro da economia brasileira nos próximos anos?, afirmou Amadeo, ressaltando que a situação da economia requer políticas fiscal e monetária muito conservadoras do governo Lula.
Na avaliação do ex-ministro, a demanda por aumento de salários no setor privado não deveria ser assunto do governo. ?Aliás, a CUT sempre defendeu a negociação direta entre patrões e empregados. Se for assim, a questão não deve se colocar para o novo governo?, disse. Segundo ele, mesmo com taxa de inflação de um dígito, mas elevada e sem perspectivas de queda, é de se esperar que haja demanda por indexação.
Ele não vê, porém, problema enquanto a demanda permanecer no campo da negociação coletiva. ?É claro que nos setores que exportam e competem com importações, com taxa de câmbio muito depreciada, as empresas podem dar aumentos de salários sem perder market share?, observou. Mas em outros setores (de empresas que não fabricam produtos para a exportação), com a economia estagnada, as firmas seriam mais cautelosas na negociação.
Apesar da alta recente dos índices, Amadeo acredita que a inflação está sob controle. ?Temos uma economia aberta, ainda que com câmbio muito depreciado, sem mecanismos de indexação, e um sistema de metas de inflação que, diante de todos os choques nos últimos anos, mostrou-se muito eficaz.?